Depois de ter dito que “a mulher é ajudadora do marido” (porque está na bíblia), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro voltou a defender um discurso cristão e supremacista religioso para tentar agregar ao marido mais seguidores cristãos.
Em evento pró-Bolsonaro na Avenida Paulista, Michelle afirmou que “por um bom tempo fomos negligentes a ponto de falarmos que não poderia misturar política com religião, e o mal ocupou o espaço.”
Sim, querida, isso se chama Estado laico e é um dos pilares da democracia, que, sabemos, o bolsonarismo não gostam muito.
O pior é que Michelle, apesar de não muito provida de inteligência, é esperta o suficiente para saber que, sim, estava propondo um Estado fundamentalista e fatalmente não democrático.
Tratar falas como esta como burrice ou inocência é um desserviço para a luta ainda travada contra o fantasma bolsonarista. Michelle Bolsonaro não é inocente: cada discurso seu é pensado não somente por ela, mas por toda sua quadrilha.
Supor que a religião representa o próprio bem é uma tática sofisticada de manipulação de massas, usada muitas vezes – e até hoje – por políticos populistas e frequentemente golpistas, como é o caso de Jair.
A verdade é que, no Brasil, política e religião sempre andaram juntas. Um país que sedia a “bancada da Bíblia” não é exatamente um país laico, a não ser em teoria.
Impor preceitos religiosos oficialmente em um governo, entretanto, não é normal e nem aceitável: fere a laicidade do Estado e é um apelo claro à teocracia.
Como bolsonarista não dá ponto sem nó, a ex-primeira-dama anunciou uma possível candidatura para senadora pelo Paraná.
O bolsonarismo claramente ainda ronda a política brasileira com intensões claras de retomada do poder, custe o que custar.
O discurso de Michelle não é, portanto, apenas um pretexto para anunciar a possível candidatura: trata-se de um gravíssimo posicionamento que desafia a democracia uma vez mais, numa imposição conservadora que transparece um chamado para um estado teocrático.
É claro que o mais grave nisso tudo é este chamado, mas não podemos deixar de dizer que os “preceitos cristãos” da família Bolsonaro são uma farsa: Michelle, por exemplo, chegou a zombar da morte da filha da autora Glória Perez e abandonou a avó à própria sorte em uma favela em Brasília.
Alguém pode afirmar que isso é ser cristão?
E quanto ao país “pró-vida” enxergado mundialmente como uma das piores gestões contra COVID, que dizimou o país não por descaso apenas, mas por um projeto genocida.
Como se não bastasse, Michelle desrespeita as religiões não cristãs (muito presentes no Brasil, e muito atacadas, também) dando a impressão de que apenas o cristianismo traz consigo o “bem”, o que quer que isso signifique.
Michelle Bolsonaro não é apenas uma cristã alienada: é uma porta voz da defesa de um estado teocrático. Seu discurso não é apenas conservador, é supremacista. Sua fala não ataca apenas outras religiões, mas a própria democracia.
O bolsonarismo tem estratégias – sim, pasmem – inteligentes de retomada do poder.
É preciso estar atento e forte.