
O assunto da semana é a estampa de uma camiseta, já que o Brasil elegeu um presidente cuja família resolveu, como se não bastasse todo o resto, se comunicar através de estampas sem graça de seus chavões repetitivos.
Nessa semana, por exemplo, Eduardo Bolsonaro estampava na camisa a frase “Aqui de boas procurando onde o comunismo funcionou”: ??????
Um parêntese: a esquizofrenia coletiva da direita brasileira acerca de uma “ameaça comunista” que nunca esteve sequer perto de se concretizar, nem mesmo quando os “ameaçadores” em questão chegaram ao poder, – é um sintoma claro de que o discurso direitista desconsidera completamente a história política de seu país – e olha que eles se dizem patriotas.
O que no Brasil se tem chamado de anticomunismo é, na verdade, um antipetismo que assumiu uma forma fascista: a camisa escolhida por Michelle Bolsonaro, por exemplo – já que a moda agora é alfinetar na indumentária – estampava a frase dita pela juiza Gabriela Hardt ao ex-presidente Lula durante o primeiro depoimento prestado por ele na República de Curitiba: “Se falar comigo nesse tom, a gente vai ter problema”.
Aparentemente, o sadismo em relação ao ex-presidente é um mal de família e anda transbordando de tal forma que é preciso estampá-lo no peito, mesmo que isso envolva ter que usar uma roupa sem graça e de péssimo gosto.
Também, pudera: o ícone fashion da terceira dama – deixo os créditos desta expressão hilária a Elika Takimoto – é claramente Melania Trump que inaugurou essa moda duvidosa ao usar a estampa de um casaco para externar seu sadismo para com os refugiados: em junho, a primeira-dama estadunidense vestiu os dizeres “eu realmente não me importo” ao visitar crianças detidas na fronteira com o México.
Qual era a necessidade?
Além de cruel, esse tipo de afronta com ares de Meninas Malvadas escancara o ódio com uma naturalidade medonha, nos dois casos.
Aliás, lamber as botas da família Trump é o hobby dos Bolsonaro: o presidente bate continência para a bandeira americana e a terceira-dama copia o look de péssimo gosto da primeira. Como costumo dizer, Jair e Michele foram feitos um para o outro.
As semelhanças entre Michele e Melania – digamos que Michele seja uma versão evangélica com menos glamour – se tornam evidentes ao passo em que ambas parecem sentir prazer em ostentarem o discurso fascista vendido por seus maridos, a ponto de estampá-los em suas roupas.
Seria possível compará-las a capitãs-do-mato ou às esposas de “The Handmaid’s Tale” – a casta de mulheres designada para colaborar com a opressão de outras mulheres de castas inferiores. Michele e Melania não só seguem os passos de seus maridos como valem-se de seus privilégios para tratarem com escárnio grandes injustiças: um prazer sádico que ainda é capaz de me chocar.
O ódio de Melania aos refugiados se parece com o ódio de Michelle a Lula e ao que se tem chamado de “esquerdistas” (ou comunistas ou vai-pra-cuba): ambos são pautados no total escárnio aos direitos humanos.
Já vestiu a camisa do ódio hoje?
Última moda nos States.