Por que Mick Taylor voltou aos Stones

Atualizado em 10 de abril de 2013 às 20:39

Uma possibilidade é que os velhos amigos estejam dando uma mãozinha a ele.
micktaylor Além do titular absoluto Keith Richards, três homens empunharam uma guitarra e puderam se dizer um Stone. O primeiro foi o fundador da banda, Brian Jones. De mente inquieta, Jones era o líder. Tem mais méritos nos arranjos e nas idéias do que na guitarra em si. Mesmo assim, foi um guitarrista muito competente.

O atual é Ronnie Wood. Veio porque a química com Keith parece praticamente perfeita. Ronnie já era um dos melhores guitarristas do mundo quando ainda tocava com o The Faces. Dois dos melhores solos que já ouvi são dele: Out Of Tears (Rolling Stones) e Maggie Mae (Rod Stewart).

E Mick Taylor, o cara que está todo mundo dizendo que está de volta, quem é? Bom, ele foi o do meio. É um grande mestre da guitarra blues. Talvez tenha saído por ser bom de mais para tocar nos Rolling Stones. Tecnicamente falando, claro.

Taylor apareceu para os Rolling Stones durante as gravações do álbum Let It Bleed, de 1969. Neste disco, participou de apenas duas músicas, Live With Me e Country Honk. Neste momento, não era da banda de fato. Era um músico contratado, como o atual baixista Darryl Jones.

E aqui vem o primeiro detalhe interessante sobre a participação de Mick Taylor nos Rolling Stones: as guitarras mais “Taylor” foram feiras aí, nestas músicas. Posteriormente, de alguma forma ele acabou se adequando ao estilo Richards.

Claro que há participações importantes neste meio tempo. Mas, de alguma forma, ele acabou se tornando um comentarista. Suas melhores guitarras, como as de Wild Horses, Tumbling Dice, Brown Sugar, são basicamente contrapontos e comentários enquanto Richards faz os riffs, carregando o trenzinho com sua locomotiva.

Sua participação como Stone em álbuns de estúdio é em Sticky Fingers, Exile On Main Street, Goats Head Soup e finalmente em It’s Only Rock & Roll. Sua saída em 1974 após as gravações de deste último disco se deu por dificuldades de convivência com Keith e mágoas com Jagger.

Mas pelo jeito, eles voltaram a ser amigos. No último show em Nova York, Taylor fez uma participação, e pelo menos no show de Glastonbury, já está confirmado que ele irá tocar.

Uma nota que vale a pena ressaltar: a imprensa brasileira está dando como certo que Taylor volta para a próxima “turnê”. Mas, primeiro, ninguém sabe se haverá de fato uma turnê; segundo que a imprensa inglesa apenas noticiou sua volta em Glastonbury, de forma que prefiro ser cuidadoso com a notícia neste momento.

Para mim, este convite tem dois motivos: primeiro agradar o público, e segundo dar uma mãozinha para o velho amigo. Keith é famoso por ser generoso e manteiga derretida. Deve tê-lo visto no subsolo do pequeno 100 Club, em Londres, tocando por um cachê baixinho, e convidado para, no mínimo, aumentar bem o valor do cachê de Taylor.

Não existe um grande ganho sonoro com sua volta. Serão três guitarras ao invés de duas, com o apoio que já existia do tecladista e maestro Chuck Leavell. Alguma força na massa, talvez. Mas, bem, o legal mesmo é ver o próprio criador solando nas músicas em que participou.

Em Glastonbury, os três guitarristas vivos dos Rolling Stones estarão dividindo o palco com Mick Jagger e Charlie Watts. O único que falta é Bill Wyman, o baixista. Ele jamais fora substituído, ao contrário de Jones e Taylor. Seu posto foi ocupado por um músico contratado, que não aparece nas fotos e não divide cachê.

O Daily Express de Londres noticiou que Bill negou um convite para fazer uma participação semelhante à feita por Taylor em Nova Iorque. Segundo a entrevista, Wyman ficou animado com a possibilidade de voltar aos palcos com os velhos companheiros, mas não aceitou por ser apenas uma participação de duas músicas, e não o show completo.

Há um detalhe, no entanto: Wyman tocou com a banda por 30 anos, enquanto Taylor por apenas 4. O baixista há de ter juntado um pé de meia que lhe permite negar o convite, o que não me parece ser o caso de Taylor.

Longe de desejar mal a alguém, de alguma forma essa parece ter sido a sorte dos fãs.

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Emir Ruivo é músico e produtor formado em Projeto Para Indústria Fonográfica na Point Blank London. Produziu algumas dezenas de álbuns e algumas centenas de singles. Com sua banda, Aurélios, possui dois álbuns lançados pela gravadora Atração. Seu último trabalho pode ser visto no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=dFjmeJKiaWQ