
Com a proximidade do primeiro turno, a mídia internacional se dirige cada vez mais diretamente aos eleitores brasileiros e chefes de outros Estados. É o caso do The Guardian.
Em editorial desta terça, o jornal britânico tece duras críticas a Bolsonaro e defende o voto em Lula.
“Na medida em que o 2 de outubro se aproxima, o medo de que ele permaneça no poder é ainda maior”, diz em alusão ao presidente de extrema direita. “Ele se provou um líder imprudente e incompetente e continua uma ameaça para a democracia e o planeta – estimulando aqueles que destroem a floresta amazônica, que estão redobrando suas ações na perspectiva de perderem seu ídolo”.
“O perigo é que Bolsonaro olhe para os votos como algo irrelevante”, considera.
“Opositores temem não apenas a violência pré-eleitoral mas também uma tentativa ao estilo Trump de manter o poder à revelia do eleitorado. Houve muito progresso no combate à desinformação no país. Mas milhões de apoiadores fanáticos devem provavelmente ver a derrota apenas como uma evidência de que foram trapaceados”.
O jornal inglês aponta preocupação com as declarações de Bolsonaro sobre o apoio do exército, sobretudo considerando a história da ditadura militar. “Ainda que poucos aceitem sua afirmação chocante, há uma verdadeira preocupação de que ele possa encontrar apoio significativo das forças armadas”.
“Uma vitória clara e absoluta de Lula idealmente no primeiro turno porém mais provável no segundo é o melhor resultado para a democracia brasileira e o planeta”, afirma.
“Outros países têm que deixar claro que eles não vão tolerar nenhuma tentativa de Bolsonaro de trapacear, intimidar ou ameaçar para chegar a um segundo mandato”, convoca.
Outro apelo aos eleitores brasileiros foi publicado na última segunda-feira no jornal português Expresso. “Os homens precisam de enfrentar a misoginia de Bolsonaro”, diz a coluna de Andre Pagliarini.
“Os homens brasileiros enojados com a misoginia de Bolsonaro devem encontrar outro candidato para apoiar. As mulheres já o fizeram, apoiando Lula em vez de Bolsonaro com uma diferença de vinte pontos percentuais numa sondagem realizada antes do debate”.
“A ascensão de Bolsonaro trouxe consigo uma série de consequências lamentáveis. Uma delas tem sido um ressurgimento reacionário da misoginia numa sociedade ainda dominada por expectativas e suposições patriarcais. Embora o Presidente tenha tentado convencer as mulheres de que as suas políticas que facilitam a posse de armas pelos brasileiros comuns ajudarão a mantê-las seguras, desde o ano passado, 96% de todas as novas compras de armas de fogo sob o regime de Bolsonaro foram feitas por homens”.
“O Brasil permanece profundamente conservador em muitos aspectos, com violência frequentemente dirigida contra mulheres e pessoas LGTBQ. Esse sexismo, no entanto, é particularmente perigoso, quando ostentado de forma tão imprudente pelo chefe de Estado”, afirma.
“Não é por acaso da história que Bolsonaro, um homem que põe em causa as instituições democráticas do Brasil e a capacidade de realizar eleições livres e justas, dado que não está à frente nas sondagens, se tornou uma figura de relevância nacional durante o ‘impeachment’ de Dilma Rousseff, a primeira mulher Presidente do país.”
“Bolsonaro representa as normas sexistas, sem qualquer tipo de desculpa, que há muito moldaram a vida brasileira”, critica.
“Derrotar Bolsonaro deve, portanto, servir como uma demonstração de apoio às instituições democráticas do Brasil, bem como um claro repúdio pelas suas atitudes injuriosas sobre as relações de género. Os homens brasileiros têm um papel especial a desempenhar nestas últimas”, argumenta.
O analista e professor critica em particular o papel de Bolsonaro no primeiro debate presidencial contra as mulheres, elogiando as posturas de Lula e Ciro Gomes.
“É encorajador que Lula e Ciro, candidatos do sexo masculino de uma certa idade com alguns dos seus próprios comentários misóginos no passado, tenham ambos enfatizado a sua indignação e crescimento em matéria de relações de género. Mais homens precisam de se apresentar para denunciar a petulância desdenhosa de Bolsonaro para com as mulheres, particularmente as afro-brasileiras e indígenas que mais sofreram no contexto do quadro social, político e económico de exclusão que Bolsonaro tem consolidado no seu mandato”.
Bolsonaro é insuportável à frente do Brasil, inclusive no exterior.