POR TIAGO BARBOSA
Parte da imprensa manipula o bom senso para plantar a narrativa de que Sergio Moro é criminoso, sim, mas o crime dele deve prosperar.
Ou, em outras palavras, Moro conspirou com o Ministério Público para prender Lula sem provas, mas, como outras instâncias chancelaram a sentença, ela deveria permanecer.
O raciocínio é, no mínimo, a contribuição odienta da mídia vassala nativa para acrescentar um capítulo próprio de corrupção de caráter ao necrológico moral exalado das vísceras do Judiciário nas mensagens reveladas pelo Intercept Brasil.
Equivale a se deparar com indícios da inocência de um acusado de cometer um assassinato e, diante da comprovação inegável da parcialidade pró-acusação do juiz, punir o julgador e deixar o inocente mofar na cadeia porque o rito formal já foi seguido.
A Veja tenta se equilibrar quase esquizofrênica para separar a quadrilha, Moro e procuradores, do instrumento com o qual ela agia, a Lava Jato – como se a operação montada para perseguir adversários políticos e saciar interesses particulares fosse puritana, tivesse vida própria e ocorresse à revelia do conluio acusatório conduzido ilegalmente pelo juiz.
A revista chega a mencionar, diversas vezes, como a Lava Jato deve ser preservada do conteúdo criminoso dos diálogos nos quais são embaralhados os papéis do juiz, que deveria ser imparcial, e dos procuradores, encarregados da acusação.
Mas não se pode negar: a operação é produto do crime.
As acusações geradas por ela são a etapa final de um processo investigativo e decisório articulado não para recuperar dinheiro desviado e promover a lisura na administração pública, mas com o objetivo de atender a interesses particulares da parceria Moro-Dallagnol de exterminar a esquerda e fortalecer os comparsas.
O invólucro ajuda a compreender melhor como a Lava Jato serviu como arma para desmontar as empresas nacionais, promover desemprego em massa e arreganhar o país para o capital internacional, sob as bênçãos norte-americanas.Não à toa, a Petrobras pagou rios de dinheiro a acionistas estrangeiros enquanto os babacas lavajateiros celebravam a recuperação de uma ninharia perto do estrago interno.
É essa a explicação por trás das medidas adotadas para blindar os colegas – Aécio, FHC, entre outros – , escolher os réus e agir na dobradinha oportunista com a manipulação da opinião pública para angariar apoio ao vale-tudo processual, o vale-tudo protagonizado pela justiça.
Começa a ser ensaiado, em meio ao lodaçal da promiscuidade entre o juiz e os office boys do Ministério Público, o twist carpado da imoralidade para entregar os criminosos sem crime, o assassinato sem cadáver.
Só existe uma consequência tolerável para as mensagens reveladas pelo Intercept: a anulação por inteiro da operação, viciada em ilegalidades desde o início, a soltura imediata de Lula, punido sem provas como troféu para eleger um entreguista, e a prisão de quem usou o Estado para agir em benefício de interesses inescrupulosos, particulares e criminosos.