Milei comemora vitória da extrema-direita nas eleições: “Construção da Argentina grande”

Atualizado em 27 de outubro de 2025 às 10:22
Javier Milei, presidente da Argentina, comemorando o resultado das eleições. Foto: Cristina Salles/Reuters

Quatro meses após prometer uma “consagração nas urnas”, Javier Milei conquistou no último domingo (26) uma vitória expressiva nas eleições legislativas argentinas, consolidando seu poder político e ampliando o espaço do governo no Congresso. Apesar de uma série de escândalos que haviam abalado a Casa Rosada nos últimos meses, o partido A Liberdade Avança, de extrema-direita, saiu das urnas como a principal força política do país.

Com 97% das urnas apuradas, segundo a Folha de S.Paulo, a legenda governista alcançou 40,8% dos votos, conquistando 64 das 127 cadeiras em disputa na Câmara dos Deputados. O peronismo, reunido sob o Força Pátria, ficou com 31,6% e 44 cadeiras.

No Senado, onde 24 das 72 vagas foram renovadas, A Liberdade Avança garantiu 13 assentos, enquanto o peronismo obteve seis, e partidos regionais ficaram com cinco. O governo venceu em 15 das 24 províncias argentinas, incluindo Buenos Aires, tradicional reduto peronista.

O resultado amplia a margem de manobra do Executivo e permite que Milei governe com mais estabilidade política e capacidade de aprovar reformas.

“Assim como agradeço a todos os argentinos pelo enorme ato cívico, seria hipócrita se eu não fizesse um agradecimento particular aos que abraçaram as ideias da liberdade. Que linda a Argentina fica de violeta”, disse o presidente, fazendo referência à cor de seu partido.

No discurso da vitória, por volta das 22h30, Milei afirmou que “o povo argentino decidiu deixar para trás cem anos de decadência e persistir no caminho da liberdade, do progresso e do crescimento”. Ele agradeceu a equipe ministerial e destacou os resultados como “confirmação do mandato recebido em 2023”.

“O povo argentino decidiu deixar para trás cem anos de decadência e persistir no caminho da liberdade, do progresso e do crescimento, hoje começa a construção da Argentina grande”, emendou o presidente.

O presidente citou nominalmente o chefe da Casa Civil, Guillermo Francos, e os ministros Patricia Bullrich (Segurança), Luis Petri (Defesa) e Luis Caputo (Economia), todos integrantes do núcleo mais próximo do governo. Bullrich e Petri foram eleitos, respectivamente, senadora e deputado.

Patricia Bullrich, ministra da Segurança da Argentina, foi eleita senadora. Foto: reprodução

O pleito consolida uma virada política significativa após a derrota de Milei nas eleições provinciais de setembro, quando havia perdido por 13 pontos em Buenos Aires.

Desta vez, o resultado confere ao governo uma bancada suficiente para evitar a derrubada de vetos presidenciais e impulsionar a agenda de austeridade fiscal. Milei conseguiu ainda manter os deputados de seu partido que precisavam renovar mandatos e ampliar a base no Senado. As pesquisas indicavam uma disputa equilibrada, mas o governo superou as projeções.

A oposição, desarticulada desde o fim do governo Alberto Fernández, reagiu com críticas. O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, principal líder peronista, afirmou que Milei “erra se ignorar o sacrifício do povo argentino”. Em discurso após o resultado, Kicillof criticou a aproximação de Milei com Donald Trump e alertou para riscos de dependência econômica.

“Os EUA não são uma sociedade beneficente. Vieram à Argentina para lucrar e colocar nossos recursos em risco. O governo tem ainda mais responsabilidade agora”, disse.

A ex-presidente Cristina Kirchner, impedida de votar por decisão da Câmara Nacional Eleitoral, segue em prisão domiciliar após ter sua condenação por administração fraudulenta confirmada pela Suprema Corte. Sua ausência simbólica reforçou o enfraquecimento do peronismo.

Já Milei, com o apoio político de Trump e respaldo financeiro da Casa Branca, conseguiu evitar uma crise cambial no mês anterior às eleições, graças a um acordo de troca de divisas e compras emergenciais de moeda estadunidense pelo Tesouro dos EUA.

Agora, o presidente enfrenta o desafio de reorganizar o gabinete, com a saída do chanceler Gerardo Werthein e a renúncia do ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona. “Vamos seguir em frente, seguir construindo essa mudança. Os que não foram parte das nossas listas e compartilham uma ideia de mudança, estamos de braços abertos no Senado para construir as maiorias”, afirmou Patricia Bullrich após a divulgação dos resultados.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.