
O presidente Javier Milei venceu as eleições legislativas de meio de mandato com mais de 40% dos votos, segundo resultados oficiais parciais divulgados neste domingo (26). A vitória, inesperada pela magnitude, marca um reforço expressivo de sua base no Congresso e redefine o mapa político argentino.
Mais de 36 milhões de eleitores foram às urnas para renovar metade da Câmara dos Deputados (127 cadeiras) e um terço do Senado (24 vagas). A disputa, tratada pelo próprio governo como um plebiscito sobre a gestão Milei, expôs o desgaste da oposição peronista e confirmou o avanço do discurso ultraliberal. Mesmo após quatro meses de instabilidade econômica, dependência de um resgate financeiro dos Estados Unidos e escândalos de corrupção, o governo superou suas próprias expectativas e reverteu derrotas recentes.
O dado mais simbólico foi o triunfo, ainda que por margem estreita, na província de Buenos Aires — a maior do país, responsável por quase 40% do eleitorado nacional. Em setembro, o peronismo havia vencido ali por mais de 14 pontos. Agora, Milei virou o jogo mesmo enfrentando dificuldades internas: seu candidato, José Luis Espert, renunciou por suspeita de corrupção, e o governo sequer conseguiu reimprimir as cédulas. Ainda assim, a estratégia de reduzir a eleição a uma batalha entre “a liberdade” e o “retorno do kirchnerismo” funcionou.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também teve papel indireto na campanha. Duas semanas antes da votação, Trump afirmou que os 40 bilhões de dólares prometidos em ajuda financeira dependeriam da vitória da ultradireita. Embora tenha recuado depois, a declaração provocou queda nos títulos argentinos e desvalorização do peso — efeito que acabou mobilizando parte do eleitorado favorável a Milei.
O peronismo sofreu derrotas em quase todas as províncias. Governadores que tentaram construir uma alternativa sob a sigla “Provincias Unidas” também fracassaram. “Boa parte dos argentinos preferiu votar em Milei antes que permitir um retorno do peronismo. A oposição não apresenta um plano, apenas críticas”, diz o cientista político Juan Negri, da Universidade Di Tella.
Com vitórias expressivas em Buenos Aires, Córdoba, Mendoza, Santa Fe e na capital, Milei consolida um poder político inédito para um governo ultraliberal na história recente da Argentina. Ainda sem maioria no Congresso, o presidente ganha, porém, o respaldo eleitoral necessário para seguir com sua agenda de cortes e privatizações — e, ao menos por enquanto, com o voto de confiança de um país exaurido.