Militares: o mal-estar de quem pode pagar a conta. Por Helena Chagas

Atualizado em 9 de abril de 2019 às 21:38
Bolsonaro conversa com generais do Exército
Fernando Souza / AFP

Publicado originalmente no site Os Divergentes

POR HELENA CHAGAS

Não veremos, ao menos no curto prazo, qualquer integrante da ala militar do governo falar mal da escolha de Abraham Weintraub para o MEC – até porque alguns deles têm boas relações pessoais com o economista, cultivadas nos tempos da campanha eleitoral. É evidente, porém, que os militares perderam a rodada mais recente do campeonato. Weintraub não é uma “olavete” indicada pelo guru Olavo de Carvalho, mas é um “olavista” que teve seu nome por ele chancelado e representará, na Educação, a ala ideológica do governo. O entorno militar de Bolsonaro, cuja prioridade tem sido “desolavizar” o Planalto e a Esplanada, não ficou feliz.

Afinal, os militares têm sido saco de pancada permanente de Olavo de Carvalho, que ora bate no vice Hamilton Mourão, ora no ministro Santos Cruz – este, sim, da copa e da cozinha do Planalto. O fato de o presidente da República dar a Olavo o papel decisivo de aprovar a nova nomeação do MEC é, sim, o que parece: desprestígio da ala militar.

Não se sabe no que isso resultará. Todos os interlocutores da turma verde-oliva que cerca Bolsonaro são unânimes em assegurar que os generais do governo são absolutamente leais ao presidente – inclusive Hamilton Mourão, que vem provocando tititi com sua movimentação para mostrar que é capaz e viável como eventual substituto mas que, até agora, nas ações, vem sempre chutando a bola para dentro.

Não há hoje, portanto, qualquer sombra de articulação concreta dos militares para puxar o tapete de Bolsonaro, ou de alguma aliança com os políticos, sem os quais nada seria possível, com esse objetivo. O mal-estar verde-oliva, porém, pode vir a ser um ingrediente de uma fermentação maior no futuro, envolvendo todas as forças interessadas, caso o governo continue fracassando na gestão e na economia.

Por isso, é bom que o escanteamento militar no episódio MEC – que vai ficar claro, gritante, se Weintraub demitir o secretário-executivo da pasta brigadeiro Ricardo Machado – seja lido junto com o recado dado por Mourão no último domingo, em Harvard, a uma platéia que o aplaudiu fortemente. Disse o vice: “Se o nosso governo falhar, errar demais, não entregar o que está prometendo, essa conta irá para as Forças Armadas. Daí a nossa extrema preocupação”.

Na superfície, Mourão parece ter dito que os militares não podem deixar esse governo dar errado, o que é razoável. Um pouco abaixo dela, porém, dá para imaginar muita coisa. E se, mesmo assim, der errado?