Minha biblioteca de bolso

Atualizado em 16 de janeiro de 2012 às 17:16

 

Hoje é raro eu pegar um livro de papel como aquele

Minha vida toda se deu em torno de livros.

Poucas coisas me fascinaram tanto, na vida, como errar numa livraria. A visão de um mundo de livros sempre me deixou excitado, encantado. Comovido.

Nunca achei caros os livros. Quer dizer. Relativamente. Ria comigo mesmo quando via pessoas que gastam alegremente 100 reais numa refeição reclamarem do preço de um livro.

Como consequência disso, abri um bom espaço em minha casa para uma biblioteca. Regularmente, tinha que me desfazer de dezenas de livros por falta de lugar. Não consegui jamais ter a disciplina que Vargas Llosa afirma ter: a cada novo livro comprado, um é dado.

Gosto de escrever, mas gosto ainda mais de ler.

Mas.

Mas, seis meses depois de haver começado a ler livros digitais, fui conquistado por eles. Um hábito de uma vida inteira se rompeu. Ou se reformou.

Virtualmente, renunciei aos livros de papel. Nunca pensei que isso pudesse acontecer. Mas aconteceu.

Leio no iPad e no iPhone. É muito mais fácil. A iluminação suave da tela evita até que eu tenha que acender um abajur para a leitura. Compro livros com um clique. Tenho acesso a uma literatura gloriosa gratuitamente – as obras caídas em domínio público e digitalizadas por benfeitores da humanidade como os ativistas do Projeto Gutemberg. Foi assim que pude ler a História da Inglaterra, de David Hume, ou a História dos Girondinos, de Lamartine.

Dou preferência, hoje, ao iPhone. Muitos consideram a tela pequena demais, mas não concordo. As letras são de bom tamanho para um míope como eu, e a leveza do aparelho faz toda a diferença. Posso mover as páginas com um simples movimento do polegar da própria mão com a qual seguro o iPhone. (Em breve, assim que aprender a manejá-lo, vou também usar o Kindle que ganhei de minha namorada, Erika-san.)

Com o iPhone, já não preciso carregar um livro por toda parte, para emergências, como uma espera num consultório médico, por exemplo. Levo uma biblioteca no bolso.

Se ainda me tocam as livrarias? Não vou dizer que me tornei indiferente a elas, mas hoje as vejo como quem encontra um amor do passado – com carinho, mas sem que o coração dispare.