Minha nova parceira literária

Atualizado em 11 de julho de 2011 às 6:47
Parceiros no crime

Não é fácil acompanhar Camila. Ela é rápida, imaginativa. Um pequeno furacão criativo, aos 14 anos.

Combinamos, como contei outro dia, escrever uma história policial. O dono de uma padaria é assassinado. Um dos fregueses, Souza, um ex-policial que virou detetive particular, acaba investigando o crime. Souza, um sessentão inspirado no avô César de Camila, gosta de dizer que pode não ser o detetive mais inteligente do mundo, mas quando se trata de intuição é imbatível.

Toda essa intuição bastará para ele desvendar o mistério?

Bem, otimismo não falta a Souza.  “O otimista é o pessimista que se informou”, costuma dizer, satisfeito com seu espírito altamente positivo..

Cada um de nós está escrevendo uma parte.  Mas pensamos em dupla.  Camila, com sua mente fervilhante, criou personagens, inventou nomes pitorescos, trouxe suspeitas em dose copiosa. Enfim, estou tendo que me desdobrar para fazer jus à parceria literária de minha caçula. Que, de resto, é altamente demandante. “Cadê aquele capítulo que você ficou de escrever, filho?”, ela me cobrou outro dia.

Publico o prólogo por ora. Caso haja interesse, as demais partes do quebra-cabeças aparecerão. Isso, é claro, na hipótese de Camila autorizar …

O homem estava fazendo seu caminho habitual. Todas as manhãs, às 5 e meia pontualmente, ele atravessava o parque rumo ao lugar para o qual sempre se dirigia na primeira atividade do dia. Estava sempre sozinho na marcha. São Paulo acorda cedo, mas nem tanto.

O homem tinha as passadas rápidas de quem está interiormente apressado.

O único som que ele ouvia ao andar pelo parque era o de suas próprias passadas. São Paulo em certas situações pode ser silenciosa.

Então subitamente ele ouviu um barulho às suas costas.

Um cachorro, talvez.

Detestava cachorros. Mordem, fazem sujeira, dão despesas. Depois morrem e deixam o dono arrasado.

Mas não. Era um som parecido com o de suas próprias passadas.

Alguém acordara tão cedo quanto ele? Ou era um bêbado que acabara dormindo na grama macia do parque?

De repente o som ficou mais próximo.  Alguém estava perto. Tão perto que podia ouvir a respiração.

Ficou irritado. Havia muito espaço ali para que alguém tivesse que andar tão perto. Não era um homem habituado a dividir nada. Sequer o espaço num parque ao caminhar.

Pensou em parar e deixar o outro passar. Aquilo estava perturbando-o.

E então finalmente olhou para trás. Pareceu surpreso e aliviado ao ver um rosto que lhe era familiar.

“Você por aqui?”

Foram suas últimas palavras.

Recebeu um, dois, três tiros no peito. Nem eram necessários tantos. O primeiro acertou o coração e o matou imediatamente.