Ministro Weintraub não pode destruir a educação e um sax ao mesmo tempo. Por Moisés Mendes

Atualizado em 31 de maio de 2019 às 7:42

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO AUTOR.

Decidi hoje. Vou escalar o Everest no ano que vem. Cheguei a pensar em escalar a Serra do Caverá com um grupo de amigos, até organizei o que seria a Expedição Caverá e que não saiu por motivos vários.

Agora quero ir mais alto. O pico da Serra do Caverá deve ter uns 200 metros. Quero chegar a mais de 8 mil metros, e pelo lado mais perigoso da montanha do Tibete, sem a ajuda dos sherpas. Nenhum nativo vai carregar minhas tralhas.

Irei apenas com minha bombinha de asma. Decidi escalar porque fiquei sabendo que hoje em dia qualquer um tenta subir o Everest. Um alpinista disse que a escalada depende 70% da força mental, 20% da força física e 10% do tempo, do clima. Eu tenho força mental.

Vou tentar porque o mundo banalizou quase tudo. Descobriram que é possível fazer o que antes era excepcional, só para poucos. Qualquer um pode ser presidente do Brasil ou dos Estados Unidos.

Um palhaço que debochava da política foi eleito presidente da Ucrânia. Outro palhaço pode ser o próximo primeiro-ministro britânico. Não são palhaços que se valem do humor para divertir, mas para enganar.

Banalizaram coisas sérias. Qualquer um hoje acha que toca sax, como o ministro da Educação. Abraham Kafta Weintraub assoprou um sax no saguão do ministério essa semana. Porque ele acha que os outros vão achar que ele toca sax e que isso tem lá seu charme.

Mas aí não tem perdão. Abraham ameaçou denunciar professores, estudantes e pais que divulgarem protestos nas universidades. Eu vou denunciá-lo pelo delito de assoprar um sax como se tocasse um sax. Foi medonho.

Alguém pode até bater nas cordas de um violão ou espichar o fole de uma gaita sem saber tocar direito. Mas um sax, não. O sax exige o controle físico do que é mais importante, o ar, a respiração.

Dizem que só toca sax quem controla até a batida do coração. Não há como querer tocar sax sem saber de fato tocar e por isso Abraham deve ser denunciado. Pela crueldade com um instrumento que não aceita enganadores, pelo mau exemplo, pela tentativa de fingir que toca sax, porque não há como fingir.

Abraham é pior do que a Damares, porque Damares apenas vê Jesus na goiabeira. Abraham vê o sax e se avança no sax porque acha que sabe tocar.

O homem que faz ameaças a professores e estudantes pode não saber fazer contas básicas com chocolates, pode até confundir Kafka e kafta e fazer dancinha com guarda-chuva. Mas não pode achar que nos engana assoprando um sax.

Abraham não pode querer destruir a educação e um sax ao mesmo tempo.