Miriam Leitão acerta ao dizer que Lula venceu o debate, mas erra ao apontar os motivos

Atualizado em 11 de agosto de 2018 às 9:09
Miriam Leitão na sabatina com Bolsonaro

Primeiro, vamos ler o que Miriam publicou em sua colona de hoje no jornal O Globo:

Lula venceu o debate por uma espécie de W.O. às avessas. Por estranha estratégia dos candidatos, o PT foi poupado de cobranças sobre o mensalão e o petrolão. Naquele mesmo dia havia acontecido um evento emblemático: o Ministério Público, que o ex-presidente acusa de perseguição, devolveu à empresa mais R$ 1 bilhão desviado da estatal. O partido foi poupado da crítica de o governo Dilma ter provocado a pior recessão do país, ter transformado 16 anos de superávit primário no maior rombo fiscal em duas décadas e iniciado a mais dolorosa onda de desemprego. Dilma foi invenção de Lula mas a ele nada é imputado.

Ele não estava presente no debate da Band, mas as acusações sobre as mazelas do país foram jogadas sobre o “governo atual”. O governo de Michel Temer está no fim, sem força e sem capacidade de alavancar seu candidato, o ex-ministro Henrique Meirelles. Era preciso deixar claro quem nos trouxe a esta situação. A impopularidade de Temer faz dele um alvo tão fácil quanto inútil. Na economia, ele pode ser acusado de não ter conseguido vencer o déficit público e de ter diminuído apenas ligeiramente o desemprego. Mas ele herdou os dois problemas. Como o atual presidente é carta fora do baralho, os candidatos que pretendem confrontar Lula ou Fernando Haddad não podem mais tratar o PT como se ele fosse uma abstração.

Miriam Leitão acerta ao dizer que Lula ganhou o debate — ninguém demonstrou ali que pode fazer melhor do que o PT em seus 13 anos de governo. Mas erra ao apontar os motivos.

Além disso, desconsidera que os candidatos estavam ali para disputar a segunda vaga no segundo turno.

A outra é de Lula — seja ele próprio ou Haddad, o que é provável. Para os que estavam no debate, o momento é de se atacarem mutuamente, se desconstruírem uns aos outros, não a Lula, que já tem uma imagem consolidada no eleitorado.

Além do mais, se atacado, Lula nem sequer poderia se defender, e isso ficaria claro ao público. Vitimizaria Lula.

Análise ruim também porque repete a lenga-lenga de que o PT provocou a recessão. Errado. O que provocou a recessão foi o movimento para derrubar Dilma, que inviabilizou o governo, com pautas bombas.

O jornalismo de guerra, aliado desse movimento, ajudou a colocar gasolina na fogueira.

Sobre a Petrobras, basta lembrar que, antes da Lava Jato, o valor da empresa era 160 bilhões de reais maior.

Com o espetáculo da investigação, perdeu valor, cancelou investimentos e, depois que Temer assumiu, mudou a estratégia da empresa, e o resultado o povo sente no bolso: combustível mais caro.

Miriam Leitão e O Globo vão até o fim nesta falácia de que colhemos hoje o fruto da semente plantada pelo PT. Só que não convence mais. Nem aos tolos.

No último ano em que Dilma governou num ambiente de relativa normalidade, em 2014, a taxa de desemprego era inferior a 4,8% — o que caracteriza pleno emprego, hoje é de 13% –, o dólar fechou a R$ 2,65 — hoje é R$ 3,86.

O botijão de gás de cozinha com 13 quilos custava 45 reais e hoje está em quase R$ 100.  O litro da gasolina era vendido a R$ 2,90. Hoje está em torno de R$ 5.

Sob qualquer critério, o Brasil piorou. Mas, para Miriam Leitão, a culpa é do PT.

Enquanto estiver no Grupo Globo, ela vai bater nesta tecla. Pelo menos até o dia em que um novo editorial for publicado, e a empresa se desculpar pelo erro cometido de ter apoiado a derrubada de Dilma.