Miriam Leitão vê “visão seletiva” em quem não critica as lambanças de Bolsonaro na área fiscal

Atualizado em 4 de setembro de 2022 às 7:11
Miriam Leitão e Jair Bolsonaro/GNews/Reprodução.

A jornalista Miriam Leitão criticou em sua coluna dominical no Globo os economistas que criticam as gestões petistas pelas escolhas na área fiscal mas não fazem o mesmo com o governo Bolsonaro, que em sua análise cometeu “lambanças”, “descalabros” e cometeu “gambiarras”.

Leia trechos:

Economista com preocupação fiscal que não vê o descalabro que é o governo Bolsonaro nesta área têm visão seletiva. O governo furou o teto várias vezes, pedalou precatórios, fez escolhas erradas, usou as crises como uma licença para gastar sem critério e armou bombas fiscais. Os erros cometidos pelo PT são explorados à exaustão por esses analistas, que, no entanto, não parecem se incomodar com os mesmos erros feitos agora. Neste espaço, sempre critiquei os rombos e distorções em governos petistas. Com a mesma régua, alerto para a herança que ficará da atual administração que vai pesar nos próximos anos.

As declarações do ministro Paulo Guedes, na quinta-feira, são emblemáticas da maneira como se administra as contas públicas. No mesmo dia em que exibiu seu ufanismo irrealista, ao dizer que o Brasil cresce mais do que a China, ele falou em decretar calamidade. O uso desse instrumento previsto nas leis fiscais brasileiras foi banalizado e virou licença para fugir de todo o ordenamento das contas públicas. Em julho, decretou-se emergência para fazer um aumento oportunista e eleitoreiro em benefícios sociais. Agora, o ministro acena com a calamidade para tentar sustentar o estelionato eleitoral que Bolsonaro já comete ao prometer manter o benefício nesse valor, mas não incluir no Orçamento. (…)

O governo aproveita o forte aumento da arrecadação para dizer que faz um ajuste fiscal sério. Não fez, e a prova é que o déficit volta ano que vem. O governo tem contado com receitas temporárias, como antecipação de dividendos, e tem se beneficiado de receitas de commodities, que são voláteis. Pelo lado das despesas, tem postergado despesas, fazendo ajustes na boca do caixa.(…)

O que não faz sentido é apontar os erros passados do PT e não fazer a mesma cobrança sobre a lambança dos últimos anos. Bolsonaro desestabilizou o teto de gastos, usou decretos de calamidade e emergência como gambiarras para despesas sem controle e contratou várias distorções que amanhecerão na mesa do próximo presidente no dia seguinte ao da posse.