Miruna Genoino ao DCM: “Meu pai foi preso porque era preciso criminalizar a esquerda”. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 7 de novembro de 2016 às 21:01

 

Miruna Genoino, filha de José Genoino, pedagoga, casada, dois filhos, achou algumas vezes que sua vida havia acabado.

Ela viveu o drama da acusação, condenação, prisão, doença e afinal extinção da pena de seu pai no mensalão. Foram pelo menos nove anos que ficarão para sempre marcados.

A experiência está virando um livro financiado através da plataforma Catarse, chamado “Felicidade Fechada”. A base são as cartas enviadas a Genoino. Miruna pediu, há seis dias, 87 500 reais para viabilizar o projeto. No momento em que escrevo, os apoiadores já desembolsaram 75 100.

“O que eu quero é contar essa história do nosso ponto de vista, de como a nossa família viveu todo o processo”, disse ela à equipe do DCM na TVT que a entrevistou no sobrado de seu pai no Butantã.

O portão de ferro do imóvel, que encobre toda a fachada, é uma novidade. Foi instalado depois que o programa Pânico instigou seus ouvintes a irem até lá.

“Foi em 2005. O Pânico começou uma campanha: ‘Onde está Genoino?’. Um dia marcaram uma concentração em frente à nossa casa. Meu pai e meu irmão estavam aqui. Eu e minha mãe estávamos numa festa”, diz.

“Me avisaram que havia pessoas na porta e que eu não deveria ir. O problema foi eu ter chegado. Gritaram de tudo, ameaçaram invadir. Meu pai queria sair para brigar, meu irmão o segurou. Tinha muita gente”.

O assédio da imprensa é inesquecível. “Montaram campana aqui. Gravavam e fotografavam as crianças mesmo eu pedindo que não fizessem isso. Tinham 5 e 6 anos. A mídia foi muito cruel com elas”, conta.

Miruna casou-se há onze anos. Um dia, foi com o pai buscar o então noivo, espanhol, no aeroporto de Guarulhos. “Estávamos tomando um café quando uma mulher começou a gritar com a gente. Meu irmão respondeu. As pessoas em volta, então, começaram a aplaudir de pé aquela senhora”, lembra.

“Meu pai fez de tudo para que essas coisas não nos atingissem. Criou um escudo para nos proteger”.

A escrita foi terapêutica nesse período. Seus posts no Facebook viraram uma maneira de se ter notícias. Também causaram uma onda de solidariedade — e ódio.

“Eu preciso escrever. Faço isso no aniversário dos meus filhos, por exemplo”, diz. “O livro não é de vingança”.

Miruna afirma que chegou a encontrar um dos juízes do STF. “Estava indo sozinha a Brasília e no avião estava o ministro. Não me lembro o nome. Na hora, gelei. ‘O que eu faço com essa pessoa que está destruindo a minha vida?’, pensei”.

“Não fiz nada. Meu pai falou que agi corretamente. Fiquei noites e noites remoendo essa cena. Hoje concordo com ele”.

Seus dados foram hackeados. O telefone dela foi publicado num site. “Fiquei muito exposta. Me ligavam para passar trotes. Recebi muito email falando da multa do meu pai [uma vaquinha levantou 700 mil reais], nos acusando de pegar dinheiro”, fala.

“Não sei se tem perdão para o que fizeram. Minha mágoa maior é com a mídia. Meu pai foi preso porque era preciso criminalizar a esquerda. Mas prefiro não ficar com raiva. Procuro focar na gratidão”.