Mistério nas profundezas: cientistas descobrem fenômeno que pode dividir a África

Atualizado em 14 de outubro de 2025 às 21:26
Rachaduras de vários quilômetros de extensão são observadas em solo africano; montagem de duas fotos
Rachaduras de vários quilômetros de extensão são observadas em solo africano – Reprodução

Cientistas internacionais identificaram que o calor vindo das profundezas da Terra está empurrando lentamente as placas tectônicas e esticando o terreno do leste africano em movimentos regulares. O processo ajuda a explicar como o continente se fragmenta em diferentes regiões. Com informações do g1.

Publicado em junho na revista Nature Geoscience, o estudo revela que esse fluxo de material quente — o manto terrestre — não sobe de modo contínuo, mas em pulsos cíclicos, lembrando um “batimento cardíaco geológico”, especialmente sob a região de Afar, no nordeste da Etiópia.

Afar é um ponto crítico: ali convergem três grandes fendas da crosta terrestre — o Rifte da África Oriental, o Rifte do Mar Vermelho e o Rifte do Golfo de Áden —, e as placas tectônicas afastam-se lentamente nesta região. Essa configuração torna o local especialmente vulnerável à ação do manto quente que sobe por baixo.

Por que o continente está rachando de modo desigual

Antes, os cientistas sabiam que o manto pressionava a crosta naquela área e fazia o solo se expandir, mas não compreendiam como isso acontecia em detalhes. O novo estudo mostra que as pulsações no manto ocorrem em intervalos, não de forma contínua.

Plumas mantélicas (reservatórios de material quente) sob Afar são assimétricas e contêm faixas químicas que se repetem como códigos de barras geológicos. A interação entre as placas tectônicas molda como esses pulsos se propagam.

Segundo a geóloga Emma Watts, líder da pesquisa, “o manto sob Afar não é uniforme nem estático — ele pulsa e essas pulsações carregam assinaturas químicas distintas”.

Continente africano
Continente africano – Reprodução

Consequências geológicas e implicações

Esses movimentos lentos e repetitivos funcionam como uma “respiração” da Terra: o calor sobe, o solo se expande e, com o tempo, o continente se separa. Essa força interna também impulsiona vulcões e terremotos na região.

Para a pesquisa, foram analisadas mais de 130 amostras de rochas vulcânicas do nordeste da África, integradas a modelagens estatísticas avançadas. Os resultados indicam que há uma pluma mantélica ascendente potente, com faixas químicas recorrentes que lembram códigos de barras geológicos.

O professor Tom Gernon afirmou que o comportamento se assemelha ao fluxo sanguíneo: “as faixas químicas indicam que o manto pulsa, como um batimento cardíaco. Em regiões onde as placas se afastam mais rápido, como o Mar Vermelho, essas pulsações viajam de forma mais eficiente e regular.”

Os cientistas destacam que esse processo é natural e extremamente lento: para que a separação seja completa e um novo oceano surja, pode levar dezenas de milhões de anos.

No entanto, monitorar o que acontece hoje no Chifre da África pode oferecer pistas de como oceanos como o Atlântico se formaram no passado. O Atlântico surgiu da fragmentação da Pangeia, há cerca de 150 milhões de anos, por causa dos mesmos movimentos das placas tectônicas.

Próximos passos da pesquisa

Os autores apontam que os próximos desafios são compreender com precisão como e com que velocidade ocorre esse fluxo do manto sob as placas. Derek Keir, professor associado nas universidades de Southampton e Florença e coautor do estudo, reforça essa necessidade de aprofundamento.

Jessica Alexandrino
Jessica Alexandrino é jornalista e trabalha no DCM desde 2022. Sempre gostou muito de escrever e decidiu que profissão queria seguir antes mesmo de ingressar no Ensino Médio. Tem passagens por outros portais de notícias e emissoras de TV, mas nas horas vagas gosta de viajar, assistir novelas e jogar tênis.