Mobilidade: Estrutura de transportes nas grandes cidades é retrato da desigualdade

Atualizado em 9 de setembro de 2020 às 17:02
A (precária) mobilidade urbana de São Paulo

PUBLICADO NA REDE BRASIL ATUAL

Os meios de transporte também são um espelho da desigualdade socioeconômica no país. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apresentado na quinta-feira (16), mostra que o transporte interfere no acesso a oportunidades de emprego e a serviços de saúde e educação nas maiores cidades do país.

Em todas as cidades estudadas, a população branca e de alta renda tem mais acesso às oportunidades do que negros e pobres. O estudo apresentou os primeiros dados do projeto Projeto Acesso a Oportunidades, desenvolvido em parceria com o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP).

O estudo revela, também, que a concentração de atividades nas áreas urbanas, aliada ao desempenho das redes de transporte, garante altos níveis de acessibilidade ao centro das cidades, enquanto regiões de periferia são marcadas por desertos de oportunidades.

“Os padrões de acessibilidade urbana afetam as condições econômicas e sociais das pessoas e têm impacto sobre desempenho econômico e ambiental das cidades”, afirma o pesquisador do Ipea Rafael Pereira, doutor em Geografia e um dos autores do estudo.

O trabalho combina dados de registros administrativos, pesquisas amostrais, imagens de satélite e mapeamento colaborativo, para calcular os níveis de acessibilidade por transporte público para sete grandes municípios, e por modos de transporte ativo (a pé e de bicicleta) para as 20 maiores cidades brasileiras, tanto por níveis de renda quanto por cor ou raça.

Foram utilizados dados do Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e dos Ministérios da Saúde, da Educação e da Economia.

A mais desigual entre todas

Ao analisar o acesso a emprego em até 30 minutos de caminhada, os pesquisadores identificaram São Paulo como a cidade mais desigual entre todas, com o indicador maior que nove – isso significa que o número de empregos acessíveis aos 10% mais ricos em São Paulo é mais do que nove vezes maior do que o número de empregos acessíveis aos 40% mais pobres.

Curiosamente, o Rio de Janeiro apresenta uma das menores desigualdades neste quesito, por conta da aglomeração da população de renda baixa próxima ao centro da cidade.

Quando o assunto é educação, em todas as cidades, com exceção de Brasília, se gasta entre cinco e dez minutos de bicicleta para se chegar até uma unidade de ensino médio mais próxima.

Todos os dados das 20 cidades pesquisadas estão disponíveis em uma plataforma interativa, permitindo consulta por cidade, meio de transporte e atividade (trabalho, saúde ou educação). Nos próximos anos, o projeto buscará incluir mais cidades e áreas metropolitanas, considerar modo de transporte privado e calcular novas estimativas de acessibilidade, com mais indicadores e para outros tipos de oportunidades. “O objetivo é que o material seja um guia para o planejamento e avaliação de políticas públicas que promovam cidades sustentáveis de inclusivas”, explica Rafael Pereira.