Modelo de avião que caiu teve problemas com formação de gelo em voo; entenda

Atualizado em 13 de agosto de 2024 às 12:26
Avião ATR-72 da Passaredo, semelhante ao que caiu em Vinhedo. Foto: reprodução

Em 2013, um incidente grave envolvendo um avião modelo ATR-72 da extinta companhia aérea Trip, que realizava um voo entre Maceió e Salvador, colocou em risco a vida de 62 pessoas a bordo após uma formação de gelo comprometer a segurança da aeronave.

O caso, documentado em um relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) em 2021, voltou a ganhar destaque após um acidente envolvendo um modelo idêntico da Voepass em Vinhedo, São Paulo, na última sexta-feira (9).

Mesmo sem causar mortes, relatório do Cenipa classificou o incidente de 2013 como “grave”, apontando para múltiplos fatores contribuintes, incluindo condições meteorológicas adversas, decisões equivocadas da tripulação e potenciais falhas de manutenção e projeto da aeronave. O órgão destacou que a formação de gelo, semelhante à que pode ter ocorrido no recente acidente em Vinhedo, foi um dos elementos determinantes para a perda de controle do voo em 2013.

No incidente, ocorrido em 26 de julho de 2013, o ATR-72 decolou de Maceió às 18h10 em direção a Salvador. Tudo parecia correr bem até que, por volta das 18h37, a tripulação identificou formações meteorológicas adversas e começou a discutir a necessidade de desviar a rota. Sete minutos depois, perceberam a formação de gelo, e uma sequência de problemas começou a se desenrolar, culminando na declaração de emergência pela tripulação.

Entre os momentos críticos registrados, às 18h59, a aeronave começou a vibrar fortemente, levando a uma redução da potência dos motores e a uma queda de velocidade para 158 nós. A situação se agravou rapidamente, com o piloto automático sendo desligado e um alarme de estol (perda de sustentação) soando na cabine.

Avião da Voepass após acidente que matou 62 pessoas. Foto: reprodução

Em resposta, o copiloto declarou “mayday” (emergência) e solicitou uma descida imediata. Em um intervalo de tempo muito curto, a aeronave chegou a inclinar-se 52° para frente e 58° lateralmente, enquanto perdia 5 mil pés de altitude.

O Cenipa apontou que a decisão do comandante de reduzir a potência do motor, em vez de aplicar potência máxima como recomendado em condições de gelo severo, exacerbou a perda de velocidade e levou ao estol. Além disso, falhas no gerenciamento das tarefas e na comunicação dentro da cabine atrasaram a resposta adequada à situação de emergência.

Outro aspecto crítico foi o sistema APM (monitoramento de desempenho da aeronave), que deveria alertar a tripulação sobre condições perigosas de gelo, mas estava inoperante durante o voo. A tripulação relatou que não havia qualquer indicação de que o sistema estava desligado, levantando preocupações sobre a confiabilidade do equipamento. Relatórios anteriores do livro técnico da aeronave indicavam falhas no APM, mas o problema foi considerado solucionado na época.

A investigação também apontou que a ausência de um red bug (indicador de velocidade mínima para voo em condições de gelo) no velocímetro do comandante pode ter prejudicado a consciência situacional da tripulação. Em resposta ao incidente, a fabricante ATR revisou procedimentos e treinamento, buscando aprimorar a tomada de decisão da tripulação em situações semelhantes.

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