Sou mais Manet que Monet.
Gosto da transgressão de Manet. O Desjejum no Gramado é uma glória. Aquelas duas mulheres nuas com dois homens que não lhes são a menor atenção. Gênio.
Olímpia também, em sua nudez esplêndida assistida pela mucama.
Ao contrário da crença geral, quem cunhou o termo “impressionismo” foi Manet, não Monet. A maior vantagem de Monet foi ter vivido para desfrutar a aceitação e exaltação dos impressionistas. Monet passou dos 80, e em plena atividade em Giverny, no interior da França. Estava riquíssimo com a venda milionária de seus quadros.
Manet morreu bem antes, vítima da sífilis.
Lytton Strachey, em seu notável livro sobre a literatura francesa, notou que também Voltaire foi beneficiado pela longevidade. Tivesse morrido na idade média de seu tempo, e não depois dos 80, não teria o tamanho que a posteridade lhe daria.
Por tudo isso é especialmente bom ler “A Obra”, de Zola. Claude, o jovem pintor do romance, é inspirado em Manet. Eram grandes amigos. O próprio Zola aparece no livro, como um jovem intelectual.
“A Obra” mostra curiosidades de Manet. Ele pintava com a escova de dentes, por exemplo. Quase matava as modelos que trabalhavam com ele, tantas as horas que ele dedicava à pintura. E tinha crises ao longo das quais simplemente abominava pintar.
O mundo ficou com Monet. Nada contra. É um colosso, e um dos grandes passeios que fiz nos últimos tempos foi uma ida a Giverny.
Mas eu, pessoalmente, fiquei com Manet.