
O massacre que deixou 117 mortos no Rio de Janeiro marcou uma inflexão na política brasileira. A extrema-direita percebeu a chance e está deitando e rolando na pauta da segurança pública.
Há um aggiornamento sem o golpista Jair Bolsonaro.
As pesquisas que mostraram ampla aprovação à operação policial nas favelas serviram como um sinal. Eles sentiram o cheiro de sangue.
Parte da opinião pública, desgastada pela escalada da criminalidade, enxergou na violência estatal uma forma de catarse coletiva. A direita radical soube ler o momento para capitalizar esse sentimento. A mídia está dando aquela força cobrindo um morticínio de maneira “técnica”.
A ausência de Bolsonaro, às portas da Papuda, abriu espaço para novos porta-vozes do punitivismo. Deputados, governadores e influenciadores digitais agora moldam seus discursos para atender ao clamor por “bandido bom é bandido morto”.

O governo Lula, e a esquerda em geral, estão mais perdidos que cego em tiroteio. É preciso agir.
Esse movimento revela um cálculo frio: manter o núcleo autoritário e emocional do bolsonarismo, mas sem Bolsonaro. O novo discurso é menos messiânico e mais pragmático, voltado à exploração do medo — medo da violência urbana, da desordem social. A promessa é simples: o Estado armado contra o inimigo interno.
Mantém-se a velha lógica de guerra às favelas, com o aval de parte da sociedade que vê nos mortos apenas números. A diferença é que, agora, a extrema-direita tenta dar um verniz de legitimidade institucional para a eliminação física de pretos e pobres.
Se Lula estava pontuando com tranquilidade graças a Eduardo Bolsonaro e suas trapalhadas com Trump, agora surge um novo elemento em disputa. Encontraram um flanco e o estão explorando.
O resultado é um país em que o autoritarismo se reinventa, adaptado ao novo ciclo eleitoral e ao velho instinto assassino que faz parte da nossa formação.