
As montadoras de veículos no Brasil alertaram o governo federal sobre o risco iminente de paralisação da produção devido à escassez “crítica” de semicondutores, componentes essenciais para o funcionamento dos carros modernos.
O alerta foi feito pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), que pediu intervenção urgente do governo para evitar o desabastecimento. O presidente da associação, Igor Calvet, afirmou que a situação é grave e pode afetar toda a cadeia produtiva nas próximas semanas.
“Estamos diante de uma crise que se desenha global no fornecimento de chips. Começamos a receber notificações sobre uma iminente interrupção de fornecimento de peças. A nossa indústria pode começar a parar nas próximas duas ou três semanas”, disse à Folha de S.Paulo.
Calvet se reuniu nesta quarta-feira (22) com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin, para discutir o problema.
“Já alertei o vice-presidente Alckmin hoje sobre o que está acontecendo. Estamos desenhando a possibilidade de o próprio governo brasileiro fazer uma interlocução direta junto ao governo chinês, para que as exportações desse tipo de produto ao Brasil sejam liberadas”, afirmou.
Um veículo moderno utiliza, em média, de 1 mil a 3 mil chips, que controlam desde a injeção eletrônica até freios ABS, airbags e sensores de segurança. Segundo a Anfavea, a nova crise é semelhante à vivida durante a pandemia e pode atingir também indústrias de autopeças e tecnologia.
Disputa geopolítica afeta produção
De acordo com a associação, o problema foi agravado por disputas geopolíticas recentes. Em outubro, o governo holandês assumiu o controle da fabricante de semicondutores Nexperia, subsidiária de um grupo chinês. Como resposta, a China impôs restrições à exportação de chips produzidos pela empresa, afetando o fornecimento global.
Calvet alertou para as possíveis consequências da crise. “Com 1,3 milhão de empregos em jogo em toda a cadeia automotiva, é fundamental que se busque uma solução em um momento já desafiador, marcado por altos juros e desaquecimento da demanda. A urgência é evidente, e a mobilização institucional se faz necessária para evitar um colapso na indústria”, declarou.
Setor de autopeças também pede ajuda
O Sindipeças-Abipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) também se manifestou sobre o risco de desabastecimento. Em carta enviada a Geraldo Alckmin, o sindicato pediu apoio governamental para garantir o fornecimento de componentes fabricados pela Nexperia.
Segundo o documento, já há “redução significativa na disponibilidade de componentes eletrônicos essenciais” para módulos de controle, sistemas de injeção e produtos de alta tecnologia usados em veículos leves, comerciais e industriais.
“Esses componentes não possuem, no curto prazo, alternativas de fornecimento local ou regional, sendo críticos para o funcionamento de montadoras instaladas no Brasil, como Volkswagen, Stellantis, GM, Toyota, Hyundai, BYD, entre outras”, afirmou o Sindipeças.
O sindicato alertou ainda para o “risco real de paralisação de linhas de produção, impedindo inclusive o cumprimento de contratos de exportação e desaceleração de investimentos recentemente anunciados no país”.
A entidade pediu que o governo realize gestões técnicas e diplomáticas junto à China para garantir o fornecimento e estabilizar a cadeia automotiva e eletrônica nacional.
Na terça-feira (21), o presidente Lula (PT) embarcou para uma viagem oficial de seis dias à Ásia, com compromissos na Indonésia e na Malásia. A expectativa da indústria nacional é que a crise dos chips seja discutida durante a visita.