Montados nos tribunais superiores, os Bolsonaros já se apresentam como ditadores do Brasil. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 22 de outubro de 2018 às 16:23
Rosa Weber

As afirmações dadas ainda em campanha por membros da família Bolsonaro, mostram que estamos no limiar da escolha entre o ressurgimento de nossa breve democracia e o levante de uma tirania cujos precedentes internacionais são desastrosos.

A fala de Eduardo Bolsonaro, para quem o Supremo Tribunal Federal pode ser fechado com a simples intervenção de um soldado e um cabo, revelam a mente conturbada de um projeto de fascista que está prestes a receber um poder parental que ainda não experimentara.

A ameaça aberta à Suprema Corte brasileira é um insulto à democracia de proporções tais que mereceu o repúdio até de velhos caquéticos como Fernando Henrique Cardoso que, por sua arrogância e insensatez, encontrou na “neutralidade” o esconderijo mal-acabado para quem sucumbiu ao rancor motivado pelo ostracismo.

Mas é o que se segue a esse trecho de sua fala o que realmente assombra. Aqui, não pela gravidade do ato em si, mas pelo fato do que resta evidenciado o que, na sua concepção, está sendo violentado.

Ao externar com uma naturalidade assustadora a forma como se daria a prisão de ministros do STF ao primeiro sinal de decisões contrárias ao seu interesse, Eduardo Bolsonaro logo se apressa a se justificar com quem considera ter rebaixado o ser devido valor.

Diz ele: “Não é querendo desmerecer o soldado e o cabo, não”.

É simplesmente inacreditável.

Ao ameaçar violentamente a mais alta Corte do país, Bolsonaro filho acha que está “desmerecendo” não a democracia, o Estado Democrático de Direito, o Brasil e o povo brasileiro, mas tão somente a patente rasa dos vassalos que cumprirão o serviço sujo.

Tudo já descambaria para o absurdo insondável se nas manifestações pró-Bolsonaro o candidato a ditador não tornasse ainda mais evidente o seu amor à violência e à intolerância contra o pluralismo ideológico.

Em mensagem gravada para todo o país, Bolsonaro pai fala em “faxina”, “marginais vermelhos” e “banimento”. Num discurso estarrecedor de tão autoritário, ele fala com a propriedade de quem jamais entendeu qualquer valor democrático:

“… a faxina agora será muito mais ampla. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”.

Com a Constituição a ver navios, será sob a lei dos que os seguem a forma como todos os brasileiros e brasileiras que não concordam com suas posições deverão se portar.

Dadas como opções a expulsão do país ou a prisão, a julgar pelo que se tem visto Brasil afora por seus asseclas, tortura, linchamento e morte também se apresentam como alternativas viáveis.

Desmoralizada até a última consequência, Rosa Weber vagueia na presidência do Tribunal Superior Eleitoral com a inépcia e inanição de quem se apresenta completamente despreparada para os desafios de uma eleição que já ficou marcada pelos crimes de manipulação das informações, abuso do poder econômico e utilização de caixa dois.

Todos utilizados escancaradamente à exaustão.

Já está claro que a disputa nesse segundo turno já não se dá mais entre dois candidatos, mas sim entre os poderes constitucionais da República e uma família de desequilibrados que se utilizaram de um gigantesco aparato de contrainformação e financiamento ilegal de campanha.

Confirmada sua vitória, o grande derrotado será o Tribunal Superior Eleitoral, cuja serventia já vem sendo questionada há muito tempo.

Nessa triste hipótese, Haddad, Manuela e todos os partidos que não se intimidaram e não se furtaram a defender a democracia brasileira desde o primeiro minuto, sairão muito maiores do que entraram.

Pelo bom combate que travaram, se tornaram desde já os representantes legítimos do que ainda resta de democracia no país.

A todos nós, gostando ou não do PT, só nos resta lutar até o último esforço para que a razão vença a insanidade instituída num país em que a ignorância se tornou um motivo de orgulho.