Moraes, Israel e agro: diálogos que a PF achou no celular de Bolsonaro mostram articulação golpista

Atualizado em 28 de julho de 2025 às 13:16
O ex-presidente Jair Bolsonaro mexendo em seu celular. Foto: reprodução

Os diálogos extraídos do celular de Jair Bolsonaro revelam bastidores da sua articulação política após a derrota nas urnas e mostram como o ex-presidente manteve influência sobre parlamentares, empresários e ex-integrantes do governo e, apesar da derrota, tinha no horizonte a possibilidade de aplicar um golpe de Estado. Com informações do Estadão.

As mensagens foram recuperadas pela Polícia Federal em 2023, durante a operação que investigava fraudes em certificados de vacina. Entre os conteúdos, estão conversas sobre ataques ao STF, boicote ao projeto de lei das fake news, apoio do agronegócio e até uma proposta de viagem paga a Israel, oferecida por um ex-embaixador.

CPI contra Alexandre de Moraes

Bolsonaro orientou o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) a assinar uma CPI contra o ministro Alexandre de Moraes e outros integrantes do Supremo.

O parlamentar, conhecido nas redes sociais como “Negão do Bolsonaro”, que demonstrava dúvidas em assinar o pedido de investigação por temer represálias ao próprio ex-mandatário.

Diálogo de Jair Bolsonaro com o deputado Hélio Negão (PL-RJ). Reprodução

Agro

As conversas que vieram à tona também mostram que o inelegível articulou estratégias para manter o apoio do agronegócio, setor que teve papel central no financiamento de acampamentos golpistas. Em transmissões via WhatsApp, ele compartilhava mensagens contrárias às demarcações de terras indígenas e às ações do MST, visando mobilizar sua base ruralista contra o governo Lula.

Bolsonaro também coordenou com aliados sua participação na Agrishow, feira do agro em Ribeirão Preto, evento que gerou tensão institucional após a desistência de Lula em comparecer. Em conversa com Braga Netto, o ex-presidente reagiu com irritação a um editorial que o apontava como risco ao setor, negando responsabilidade por conflitos fundiários ou diplomáticos relacionados ao agronegócio.

Print de mensagem do celular de Jair Bolsonaro. Reprodução

Fake News

As mensagens também mostram que o ex-presidente foi alertado por Tércio Arnaud Tomaz sobre o risco de compartilhar notícias falsas. Tércio, apontado como integrante do chamado “gabinete do ódio”, orientava o ex-mandatário sobre conteúdos que ele pretendia divulgar. Os diálogos foram divulgados pelo Estadão nesta segunda-feira (28).

Em uma das conversas, Bolsonaro pediu a Tércio que verificasse um vídeo do 8 de Janeiro, que mostrava um invasor alterando o horário do relógio de Dom João VI no Palácio do Planalto.

Print de conversa entre Jair Bolsonaro e Tercio Arnaud, membro do “Gabinete do Ódio”

Israel

O material revelado também mostra que o ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, se ofereceu para bancar uma viagem de Jair Bolsonaro (PL) a Israel em abril de 2023, poucos dias antes de o ex-presidente se tornar alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) por suspeita de fraude em certificados de vacina. Com informações do Estadão.

A proposta incluía estadia para Bolsonaro e mais duas pessoas. “Vou cuidar de você 14 semanas em Israel, vou pagar o custo de sua presença, hotel e tal por 3 pessoas se vc quiser”, escreveu Shelley. Minutos depois, corrigiu: “14 dias kkk”.

Diálogo de Jair Bolsonaro com o Embaixador de Israel, Yossi Shelley. Reprodução

PL das Fake News

Em 2023, o ex-presidente Jair Bolsonaro orientou seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a atuar diretamente para barrar o projeto de lei das fake news na Câmara dos Deputados. A proposta previa a regulamentação da divulgação de conteúdo nas redes sociais e mecanismos de combate à desinformação. Bolsonaro compartilhou diversas publicações contra o texto e mobilizou sua base para desqualificar a iniciativa, apelidada pelo grupo bolsonarista de “PL da Censura”. O projeto acabou sendo retirado de pauta pelo então presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).

No dia 2 de maio de 2023, em troca de mensagens, Bolsonaro afirmou a Eduardo que o projeto deveria ser votado ainda naquela data. A expectativa era de que os parlamentares aliados conseguiriam votos suficientes para derrotar a proposta. Às 19h39, Eduardo informou o pai: “Orlando Silva acabou de pedir para retirar de pauta o PL 2630”. Jair respondeu imediatamente: “Tem que votar hoje”. O deputado, então, completou: “Manifestei pela votação hoje, como líder da minoria”.