
Os diálogos extraídos do celular de Jair Bolsonaro revelam bastidores da sua articulação política após a derrota nas urnas e mostram como o ex-presidente manteve influência sobre parlamentares, empresários e ex-integrantes do governo e, apesar da derrota, tinha no horizonte a possibilidade de aplicar um golpe de Estado. Com informações do Estadão.
As mensagens foram recuperadas pela Polícia Federal em 2023, durante a operação que investigava fraudes em certificados de vacina. Entre os conteúdos, estão conversas sobre ataques ao STF, boicote ao projeto de lei das fake news, apoio do agronegócio e até uma proposta de viagem paga a Israel, oferecida por um ex-embaixador.
CPI contra Alexandre de Moraes
Bolsonaro orientou o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) a assinar uma CPI contra o ministro Alexandre de Moraes e outros integrantes do Supremo.
O parlamentar, conhecido nas redes sociais como “Negão do Bolsonaro”, que demonstrava dúvidas em assinar o pedido de investigação por temer represálias ao próprio ex-mandatário.

Agro
As conversas que vieram à tona também mostram que o inelegível articulou estratégias para manter o apoio do agronegócio, setor que teve papel central no financiamento de acampamentos golpistas. Em transmissões via WhatsApp, ele compartilhava mensagens contrárias às demarcações de terras indígenas e às ações do MST, visando mobilizar sua base ruralista contra o governo Lula.
Bolsonaro também coordenou com aliados sua participação na Agrishow, feira do agro em Ribeirão Preto, evento que gerou tensão institucional após a desistência de Lula em comparecer. Em conversa com Braga Netto, o ex-presidente reagiu com irritação a um editorial que o apontava como risco ao setor, negando responsabilidade por conflitos fundiários ou diplomáticos relacionados ao agronegócio.

Fake News
As mensagens também mostram que o ex-presidente foi alertado por Tércio Arnaud Tomaz sobre o risco de compartilhar notícias falsas. Tércio, apontado como integrante do chamado “gabinete do ódio”, orientava o ex-mandatário sobre conteúdos que ele pretendia divulgar. Os diálogos foram divulgados pelo Estadão nesta segunda-feira (28).
Em uma das conversas, Bolsonaro pediu a Tércio que verificasse um vídeo do 8 de Janeiro, que mostrava um invasor alterando o horário do relógio de Dom João VI no Palácio do Planalto.

Israel
O material revelado também mostra que o ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, se ofereceu para bancar uma viagem de Jair Bolsonaro (PL) a Israel em abril de 2023, poucos dias antes de o ex-presidente se tornar alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) por suspeita de fraude em certificados de vacina. Com informações do Estadão.
A proposta incluía estadia para Bolsonaro e mais duas pessoas. “Vou cuidar de você 14 semanas em Israel, vou pagar o custo de sua presença, hotel e tal por 3 pessoas se vc quiser”, escreveu Shelley. Minutos depois, corrigiu: “14 dias kkk”.

PL das Fake News
Em 2023, o ex-presidente Jair Bolsonaro orientou seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a atuar diretamente para barrar o projeto de lei das fake news na Câmara dos Deputados. A proposta previa a regulamentação da divulgação de conteúdo nas redes sociais e mecanismos de combate à desinformação. Bolsonaro compartilhou diversas publicações contra o texto e mobilizou sua base para desqualificar a iniciativa, apelidada pelo grupo bolsonarista de “PL da Censura”. O projeto acabou sendo retirado de pauta pelo então presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
No dia 2 de maio de 2023, em troca de mensagens, Bolsonaro afirmou a Eduardo que o projeto deveria ser votado ainda naquela data. A expectativa era de que os parlamentares aliados conseguiriam votos suficientes para derrotar a proposta. Às 19h39, Eduardo informou o pai: “Orlando Silva acabou de pedir para retirar de pauta o PL 2630”. Jair respondeu imediatamente: “Tem que votar hoje”. O deputado, então, completou: “Manifestei pela votação hoje, como líder da minoria”.