
O julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) teve um novo momento de tensão nesta quinta-feira (11), quando o ministro Alexandre de Moraes exibiu um vídeo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um ato na avenida Paulista, em 2021. Na gravação, Bolsonaro faz um discurso golpista em que ataca o próprio Moras e seu colega Luiz Fux, que ontem votou por sua absolvição, e chama Moraes de “canalha”, além de pedir sua saída do STF.
“Nós não podemos continuar a aceitar uma pessoa específica da região da Praça dos Três Poderes continue barbarizando nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil. Ou o chefe desse poder (Fux) enquadra o seu (Alexandre de Moraes), ou esse poder pode sofrer aquilo que nós não queremos, porque nós valorizamos, reconhecemos e sabemos o valor de cada poder da República”, disse o líder de extrema-direita, condenado pela Corte .
A exibição ocorreu durante o voto da ministra Cármen Lúcia, quando Moraes também rebateu pontos defendidos no dia anterior por Fux.
Além do discurso de Bolsonaro, Moraes mostrou imagens dos atos de 8 de janeiro de 2023, quando sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas em Brasília. Entre as cenas exibidas estava a de um carro da Polícia Legislativa Federal derrubado no espelho d’água do Congresso Nacional.
O ministro reforçou que não se tratou de uma manifestação política espontânea, mas de um plano coordenado. “Não foi combustão espontânea, não foram baderneiros descoordenados. Foi uma organização criminosa”, afirmou.
🚨AGORA: Durante o julgamento, Alexandre de Moraes exibiu um vídeo do réu Jair Bolsonaro ameaçando ele e outros ministros do STF.
— CHOQUEI (@choquei) September 11, 2025
Em seu comentário, Moraes destacou que as decisões tomadas pelo STF têm impacto em todos os tribunais e juízes do país. “Algum de nós permitiria, falaria que é liberdade de expressão, se o prefeito insuflar o povo contra o juiz da comarca? Qual recado queremos deixar para o Poder Judiciário brasileiro?”, questionou. Para o relator do processo, a ofensiva buscava atacar diretamente a independência da Justiça. “A organização criminosa queria calar o Judiciário e ao mesmo tempo se perpetuar no poder”, disse.
As declarações também miraram o voto de Luiz Fux, que divergiu da maioria até agora formada na Primeira Turma. Fux absolveu Jair Bolsonaro de todos os crimes, argumentando que não há provas suficientes para condenação. Ele defendeu ainda que o processo não deveria estar sendo julgado no STF, uma vez que os acusados não possuem foro privilegiado, e votou pela condenação apenas do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e do general Walter Braga Netto, ambos por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O ministro Fux também criticou a Procuradoria-Geral da República (PGR), responsável pela denúncia. Segundo ele, a acusação não conseguiu delimitar adequadamente quais crimes poderiam ser atribuídos a cada um dos oito réus nem apresentar provas concretas.
“Dúvidas devem sempre ser definidas em favor dos réus, já que ninguém pode ser punido por cogitar”, disse, ao comentar a insuficiência de elementos apresentados pelo órgão.
Bolsonaro condenado
A Primeira Turma já somou três votos pela condenação ampla, de Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cármen Lúcia, e um voto mais restrito, de Luiz Fux. Ainda falta terminar de se manifestar Cristiano Zanin, presidente do colegiado. A expectativa é que o julgamento seja concluído até sexta-feira (12), com a definição do tamanho das penas nos casos em que houver condenação. A última sessão deve ser reservada justamente para a dosimetria das penas de cada réu.
O caso julga Jair Bolsonaro e outros sete acusados por crimes como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Até aqui, a defesa do ex-presidente sustenta que ele não participou de qualquer articulação golpista e que suas falas foram apenas manifestações políticas.