
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), considerou irregular a participação de Walter Delgatti Neto, conhecido como “hacker de Araraquara”, em uma sessão da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, realizada no dia 10 de setembro. A sessão foi realizada para apurar a cassação do mandato da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada pelo Supremo por envolvimento na invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Delgatti cumpre pena de 8 anos e 3 meses de reclusão na Penitenciária II de Tremembé, em São Paulo, por ordem do STF. Segundo o despacho de Moraes, a participação dele por videoconferência como testemunha não poderia ter ocorrido sem autorização judicial prévia.
O ministro reforçou que a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAP/SP) não tem competência para permitir que um preso participe de procedimentos parlamentares ou judiciais sem a deliberação do juízo responsável pela execução penal.
Diante da situação, Moraes determinou que qualquer nova solicitação envolvendo Walter Delgatti, seja como testemunha ou investigado, deve ser previamente submetida ao Supremo.
Carla Zambelli e Walter Delgatti Neto “frente a frente” em oitiva (quase uma acareação) da CCJ na Câmara Federal.
Na oitiva, o “hacker” informou que ficou 20 dias no imóvel funcional da deputada. Carla Zambelli desmentiu. pic.twitter.com/Nkx61Exh1X
— Haftas Arden (@HaftasArden) September 10, 2025
O ministro também ordenou que a Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo e o Departamento de Execuções Criminais da 6ª Região Judiciária sejam notificados e advertidos sobre a obrigatoriedade de autorização judicial. A Procuradoria-Geral da República foi comunicada e os advogados do hacker já foram intimados.
A sessão em questão ocorreu em meio ao processo de análise sobre a cassação de Zambelli, que recentemente foi condenada pela Primeira Turma do STF a 10 anos e 8 meses de prisão. Na audiência, Delgatti prestou depoimento aos deputados, e a deputada licenciada aproveitou a ocasião para confrontá-lo e tentar fragilizar sua credibilidade. Zambelli alegou ser alvo de um processo “baseado em mentiras” e procurou explorar contradições nos relatos do hacker.
Durante o interrogatório, Zambelli reconheceu que enviou a Delgatti apenas um rascunho de mandado de prisão contra Alexandre de Moraes, encontrado posteriormente em seu celular pela Polícia Federal.
“O mandado de prisão, que é um documento encontrado no meu celular depois do acontecido pela Polícia Federal, era uma folha escrita com várias coisas. Esse mandado de prisão do ministro Alexandre de Moraes foi o único texto que eu encaminhei. Não pedi nenhum outro alvará de soltura ou mandado adicional”, afirmou.
A deputada também contestou a acusação de que teria solicitado outros 15 mandados de soltura em benefício de criminosos de facções. “Eu nunca mandei soltar ninguém. Estou respondendo por 16 mandados, quando na verdade só existia aquele que foi usado para me incriminar”, declarou.
Ao longo da sessão, buscou ainda descredibilizar Delgatti ao questionar sua conduta pessoal e supostos problemas de saúde. “Você mente bastante. Inclusive já me disse que tomava oito Ritalinas por dia. Isso compromete a sua versão”, disparou.