Moraes repõe Valdemar nas facções do golpe. Por Moisés Mendes

Atualizado em 22 de outubro de 2025 às 9:26
Alexandre de Moraes, ministro do STF, ao lado do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Foto: Cristiano Mariz

Valdemar Costa Neto, a mais serelepe figura da direita, a mais confiante, a que mais bajula Bolsonaro antes de se livrar dele, voltará várias casas no jogo do golpe. Alexandre de Moraes gritou alto, na sessão do Supremo que julgou o núcleo 4: “Peraí, Valdemar.”

O dono do PL entrará de novo, por alerta de Moraes, na turma dos que enfrentarão o estresse de um inquérito como golpistas. Uma fila que ele conhece e de onde escapou de fininho. Assim, uma sequência de perguntas terá respostas.

Se o engenheiro Carlos Cesar Rocha, dono do Instituto Voto Legal, vendeu informações falsas sobre as urnas para o PL de Valdemar em 2022. Se Valdemar e suas facções disseminaram essas informações.

Se o PL de Valdemar pagou uma multa de R$ 23 milhões ao TSE por ter usado essas informações manipuladas para acionar a Justiça Eleitoral, o que caracterizou litigância de má-fé.

Se essa ação do PL foi definida agora por Alexandre de Moraes como “uma das coisas mais bizarras que a Justiça Eleitoral já recebeu”, um questionamento grosseiro e criminoso das urnas e das eleições.

Se Rocha virou réu e agora foi condenado pelos crimes de abolição do Estado Democrático de Direito e por participação em organização criminosa.

Se tudo isso aconteceu, encadeado no roteiro do golpe, a pergunta é: como Valdemar, que contratou Rocha, usou as mentiras de Rocha e tentou ludibriar a Justiça Eleitoral, não é réu?

Sabe-se que não é porque, apesar de indiciado pela Polícia Federal, ele não entrou na lista de golpistas denunciados pela Procuradoria-Geral da República, enviada ao Supremo em fevereiro.

Ao defender nesta terça-feira que Valdemar seja investigado de novo, por coerência com a condenação de Rocha, Moraes seguiu o raciocínio do advogado do engenheiro.

Como estratégia de defesa, o advogado Melillo Dinis do Nascimento defendeu seu cliente no STF, no dia 14 deste mês, ao alegar que as mentiras do relatório haviam sido divulgadas pelo PL e por Valdemar:

“Quem geriu toda a comunicação (a partir do relatório) foi exatamente o Partido Liberal. E eu repito: cujo presidente não está presente em nenhuma ação penal.”

Nascimento fez a pergunta que pelo menos metade do Brasil fazia desde a decisão da PGR de deixar o presidente do PL fora da lista de denunciados: cadê o Valdemar?

Moraes recoloca Valdemar no lugar de onde não deveria ter saído numa boa. É um recuo e tanto para quem já andou bastante em direção à impunidade desde a passada de pano da PGR.

Valdemar vai se incomodar. O incômodo, desta vez, pode ser maior do que o enfrentado quando foi indiciado. A Polícia Federal vai retomar e fortalecer o que já fez, sabendo agora que o engenheiro autor do relatório foi condenado.

A partir do trabalho da PF e com a condenação de Rocha, a PGR não poderá mais menosprezar as provas que também incriminam Valdemar.

PF e PGR vão jogar de novo, agora pra ganhar. Não há como imaginar Valdemar livre pela segunda vez, porque Paulo Gonet não pode reprisar o constrangimento de ouvir de Moraes a mesma pergunta feita pelo advogado: cadê Valdemar?

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/