Moraes sabe: Hang é muito mais do que um cara folclórico fantasiado de periquito. Por Moisés Mendes

Atualizado em 9 de novembro de 2023 às 7:50
O dono das lojas “Havan”, Luciano Hang. (Foto: Reprodução)

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul retoma nesta quinta-feira o julgamento da ação contra o prefeito de Bagé, Divaldo Lara (PTB), e o empresário Luciano Hang, interrompido na terça-feira.

Lara é acusado de abuso de poder político e também de abuso de poder econômico, a mesma acusação feita contra o autoproclamado véio da Havan, que assim se apresenta em propaganda e vídeos.

Os delitos teriam sido cometidos na campanha da eleição municipal de 2020. O único voto até aqui foi o do relator, desembargador Caetano Cuervo Lo Pumo, que não viu gravidade no fato de que Luciano Hang foi no avião da empresa a Bagé e disse em vídeo (fartamente divulgado) que a abertura de uma loja da rede na cidade estaria ameaçada com a eventual vitória do candidato do PT à prefeitura, Luiz Fernando Mainardi.

O desembargador defendeu o direito de Hang de explicitar posições políticas, como pessoa física, e referiu-se a ele dizendo que o ativismo do catarinense é notório. O relator não viu nas ações do sujeito algo que pudesse deslegitimar a eleição de Lara nem significar “coação explícita e inequívoca ao eleitor”.

O relator disse mais sobre Hang. Que é “por todos conhecida a sua conduta extravagante”, além das suas atuações performáticas, até “com falas radicais contra partidos de esquerda”.

Para o desembargador, Hang é uma figura alinhada ao que definem como extrema direita, com a ressalva de Caetano Cuervo Lo Pumo de que colocaria tal expressão entre aspas.

Primeiro, não precisa aspar a expressão extrema direita, que está muito bem definida pela vida real e pela ciência política há muito tempo pelo que é, e não pelo que possa sugerir que não seja.

Alexandre de Moraes. (Foto: Reprodução)

Hang é assumidamente um ativista de ideais defendidas pela extrema direita e foi, segundo o ministro Alexandre de Moraes, um cabo eleitoral de Bolsonaro vestido de verde-periquito. Bolsonaro é o líder da extrema direita. E Hang e o seguia com orgulhosa fidelidade pública, até dizer, depois da vitória de Lula, que desistira dessa vida.

O desembargador também destacou, para reforçar sua percepção, que Hang é até folclórico. É assim que vai se reafirmando uma caricatura já difundida por outros dos chamados operadores do Direito em situações semelhantes.

O sistema de Justiça contribui para folclorizar o indivíduo e transformá-lo no que seria somente uma figura ”anedótica”.

Não é bem assim. Hang é um sujeito muito mais do que anedótico em suas falas (usa as palavras esquerdopata e petralha, manda ir pra Cuba). Alexandre de Moraes poderia informar aos desinformados sobre o perfil de Hang e sobre os inquéritos que correm contra o empresário em Brasília. Nenhum tem relação com suas atitudes esdrúculas.

O dono da Havan é investigado desde 2019 no inquérito das fake news, que engloba o gabinete do ódio e as milícias digitais. Foi citado no relatório da CPI da Covid, com pedido de indiciamento por incitação ao crime na pandemia.

E também está na investigação sobre participação em grupos de tios milionários do zap que estariam pregando o golpe antes da eleição de 2022.

Hang já sofreu busca e apreensão por duas vezes. Teve dois celulares apreendidos pela Polícia Federal. Os dois aparelhos são considerados até agora indevassáveis pelos peritos, porque ele se nega a fornecer as senhas à PF.

Essa figura aparentemente simplória, folclórica e singela pode andar meio quieta, mas foi na verdade um dos mais ativos militantes do bolsonarismo. E o bolsonarismo é a maior expressão da extrema direita (sem aspas) no Brasil desde a ditadura, ou talvez nem tenha tido algo similar mesmo naquela época.

Reduzir Luciano Hang a uma figura folclorizada é contribuir para que a gravidade dos seus atos e de suas falas ganhe atenuantes. Se ele fosse dono de um mercadinho de periferia, certamente não mereceria esse tratamento condescendente e quase cordial de personagem apenas extravagante.

Policiais, promotores, procuradores e alguns juízes que já submeteram Hang a investigações e julgamentos, fora da área eleitoral, sabem que o homem acusado de abuso de poder econômico, e já tornado elegível pelo TSE em maio, é muito mais do que o periquito da anedota de Alexandre de Moraes.

Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

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