Moro ainda vai entender que, como Joaquim Barbosa, será descartado quando não mais for útil. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 11 de março de 2016 às 1:40

 

Desde o espetáculo promovido por Sergio Moro e sua Polícia Federal na sexta, dia 4, com a condução coercitiva de Lula, o juiz vem sendo obrigado, finalmente, a dar explicações.

Emitiu uma nota sobre a operação e divulgou o despacho do delegado encarregado de enquadrar Lula. A justificativa era absurda: a intenção seria proteger a imagem do ex-presidente.

Mas ele teve de falar. A reação à arbitrariedade, vinda até de tucanos como José Gregori e José Carlos Dias, além do ministro Marco Aurélio Mello, foi inescapável.

Num jantar na quarta, dia 8, em Curitiba, disse que a Lava Jato não é responsável pela crise.

“As investigações têm sofrido acirrados ataques. Houve até quem atribuiu a Lava Jato à recessão atual”, afirmou. “Fico consternado com esse quadro econômico, de recessão e desemprego. Acredito que a culpa não é da Lava Jato.”

Também teve de dar satisfações sobre suas motivações, que, segundo ele, “nunca foram partidárias”. “Eu não tenho ligação nenhuma, zero, zero, com partido ou pessoa ligada ao partido. Meu assunto é jurídico”, disse.

Lembrete: a palestra foi organizada pelo Lide, empresa de João Doria Jr., provável candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, acusado por seus colegas de comprar votos nas prévias.

Na quinta, dia 10, Moro correu para contar que não tem ligação com os grupos que estão à frente dos protestos do dia 13 de março.

Foi forçado a tanto por causa de um vídeo constrangedor que um dos movimentos perpetrou, em que, enquanto a câmera faz um zoom out em sua face, um locutor lhe derrama elogios: corajoso, determinado, competente e equilibrado.

Finaliza: “Quantas vezes você viu corruptos terem tanto medo de alguém? Este homem e seu grupo estão mudando o Brasil. E agora, quando ele mais precisa de você, vai deixá-lo sozinho ou vai para a rua?”

Os mesmos hipócritas que acusam Lula de ser um “salvador da pátria” tratam Moro como um messias de ocasião. Aliás, os empresários que o aplaudem, incluindo Doria, já aplaudiram Lula, também, e não faz tanto tempo.

Cedo ou tarde, Sergio Moro terá de acordar para o fato de que sua glória é passageira e que ele, assim que deixar de ser útil, será descartado. Vide Joaquim Barbosa.

“O menino pobre que mudou o Brasil” desapareceu quando deixou pela metade o serviço no julgamento do mensalão. Acabou desgastado por causa dos chiliques homéricos quando não lhe faziam as vontades.

Aposentado, deu uma ou outra cacetada no PSDB. E então o “Batman” escafedeu-se para sempre. O pessoal que insuflou seu ego é o mesmo que transforma Moro, agora, no bastião da verdade, no guerreiro da moralidade — no patrono do golpe.

Ocorre que a turma que espera que ele atropele a democracia para arrebentar o Barba não manda no Brasil. Ainda. Por ora, existe um limite.

O maior risco que pode acontecer a Sergio Moro é ele acreditar no papel que a direita quer lhe dar. Será uma tragédia para ele — mas, sobretudo, para o país. Se for esperto, Moro vai olhar para a foto de JB e entender que o ex-presidente do Supremo é ele amanhã.