Moro ainda vai importar a sharia islâmica para determinar 23 chibatadas em Lula. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 19 de abril de 2017 às 22:57
“My precious”

Sergio Moro conquistou a unanimidade almejada há tanto tempo.

Todos os juristas e analistas sérios do país condenaram sua determinação de que Lula esteja presente às audiências das 87 testemunhas de defesa.

Pleno de si, o próprio Moro admitiu que se tratava de uma espécie de vingança em seu despacho:

“Já que este julgador terá que ouvir oitenta e sete testemunhas da Defesa de Luiz Inácio Lula da Silva, além de dezenas de outras, embora em menor número arroladas pelos demais acusados, fica consignado que será exigida a presença do acusado Luiz Inácio Lula da Silva nas audiências nas quais serão ouvidas as testemunhas arroladas por sua própria Defesa, a fim prevenir a insistência na oitiva de testemunhas irrelevantes, impertinentes ou que poderiam ser substituídas, sem prejuízo, por provas emprestadas”.

Ao site Justificando, o advogado criminalista e professor de Direito da PUC-RS, Aury Lopes Jr., disse que “caso o magistrado sentisse que a defesa estava se usando de mecanismos para prolongar a audiência, ele tinha meios para impedir que isso acontecesse, uma vez que a lei especifica que cada pessoa acusada tem o direito de arrolar 8 testemunhas por fato”.

Gustavo Badaró, advogado e professor de Direito Processual Penal da USP, falou ao Brasil de Fato que a medida não tem “previsão legal”.

“A questão é mais profunda. Imaginemos que Lula não compareça à audiência de algumas dessas testemunhas, qual será a consequência? Como a lei não estabelece nada disso, ele perde o direito de ouvir aquelas testemunhas naquele dia? Ele vai perder o direito de ouvir todas as seguintes?”, questiona.

À Veja, Davi Tangerino, professor de Direito Penal e Processo Penal da FGV-SP, lembrou que os advogados do ex-presidente podem “impetrar um habeas corpus no Tribunal Regional Federal requisitando a dispensa”.

“Caso o TRF retire a condição imposta, não vejo como o magistrado possa voltar atrás e dispensar algumas testemunhas. Moro pode cair na própria armadilha”, aponta.

Já caiu. Moro inventa alternativas que não estão previstas na lei e atropela regras da democracia.

No país em que os dois ex-comparsas Cunha e Temer brigam em público sobre a farsa do impeachment, Lula será julgado por um homem que o detesta e grita isso para o mundo todo dia.

Difícil não pensar no inesquecível capitão Dreyfus, o chefe do inspetor Clouseau que termina seus dias num manicômio por causa da obsessão em se livrar do subordinado.

Em sua guerra santa, Moro ainda vai acabar importando a sharia, a jurisprudência islâmica, e determinar que Lula leve 23 chibatadas no Largo da Batata, forçado a repetir “eu sou feio, bobo, chato e ladrão”, em árabe e inglês, a cada intervalo.