Moro diz a Boris Casoy que Petrobras quase quebrou: entenda por que ele mentiu. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 12 de outubro de 2019 às 22:06
Moro em entrevista a Boris Casoy. Reprodução da TV

Na entrevista que deu a Boris Casoy, da RedeTV, Sergio Moro voltou a propagar uma mentira: a de que a Petrobras quase quebrou na gestão de Lula e Dilma.

“A Petrobras, nós temos que reconhecer, e acho que ninguém discute este fato: ela foi saqueada. Saqueada, não vou dizer até o osso porque petróleo dá muito dinheiro, mas, se fosse qualquer outro tipo de empresa, provavelmente ela teria falido”, disse.

O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Felipe Coutinho, disse em entrevista ao DCM TV que a empresa nunca esteve perto de quebrar. “Isso é uma falácia”, disse ele. “Uma falácia usada para lesar a Petrobras”, afirmou.

Coutinho não nega que tenha havido corrupção na empresa, “que chocou a todos”. Mas a empresa, durante esse período, foi uma das mais prósperas do setor petrolífero no mundo.

“A Petrobras sempre foi altamente rentável, altamente lucrativa, nunca houve risco algum de inadimplência em relação a seus compromissos. Quem fala isso não sou eu, quem fala isso são os balanços da Petrobras”, declarou.

Os balanços anuais da empresa entre 2009 e 2016 têm dados muito parecidos em relação à geração de caixa: 25 a 30 bilhões de dólares por ano. Têm também as maiores reservas em caixa se comparadas com as outras petrolíferas, as maiores reservas em caixa do mundo. Eram 15 a 20 bilhões de dólares.

“O índice de liquidez corrente, que é um bom indicador e mostra a capacidade da empresa de pagar dívidas de curto prazo, sempre foi de 1,5, em todo esse período. O que significa isso? Que a Petrobras dispunha sempre 1,5 unidade monetária para arcar com uma dívida de 1. Sempre sobrava recurso, sempre teve folga para fazer a gestão, a administração financeira”, afirmou.

Entre 2009 e 2014, a Petrobras investiu 300 bilhões de dólares, a maior parte na infraestrutura para a exploração do pré-sal. A média, portanto, foi de 50 bilhões de dólares por ano. Parte do investimento foi com recurso próprio, parte com recurso de terceiro.

A empresa, apesar do investimento recorde, chegou a 2014 com uma dívida líquida de 115 bilhões de dólares, absolutamente compatível com o projeto gigantesco e rentável como o pré-sal.

“Aí veio mídia hegemônica, controlada pelo grande capital, submetida a interesses estrangeiros, dizer que a dívida da Petrobras era muito grande, era insustentável. Cento e quinze bilhões de dólares de dívida líquida, sendo que ela fez investimento de 300. Por que as outras companhias não tinham uma dívida compatível com a da Petrobras? Porque não tinham bons projetos. Essas grandes companhias multinacionais privadas, Shell, BP, Total, Exxon, Chevron, são empresas decadentes. Elas não repõem as suas reservas na medida em que são esgotadas. E também têm produção declinante”, disse.

Com análise desonesta de jornalistas a serviço da mídia hegemônica, criou-se o mito da Petrobras quebrada. E, em consequência disso, a falácia de que precisava vender ativos para redução de sua dívida. “É outra mentira”, assegurou.

Entre 2015 e 2018, foram arrecadados 18 bilhões de dólares com a venda de ativos da empresa, o que correspondeu a apenas 25% da redução da dívida da Petrobras. “O restante veio do caixa da própria companhia. Isso mostra que a privatização era completamente desnecessária e prejudicou a geração futura de caixa da empresa”, afirmou.

Para se ter ideia do estrago que a Lava Jato produziu na Petrobras, basta comparar os investimentos previstos para este ano com os dos anos anteriores ao golpe. Em 2019, a Petrobras prevê investir 10 bilhões de dólares. Entre 2009 e 2016, foram 50 bilhões, em média, por ano.

A Petrobras, repita-se, nunca esteve perto de quebrar. Mas agora está sendo saqueada. Ela perdeu participação relativa sobre o controle das reservas de petróleo que ela mesma descobriu e está cada vez mais se tornando uma empresa de exportação de óleo cru, para que o país importe derivados.

“Enquanto isso, nossas refinarias ficam ociosas, o que é um absurdo para um país que precisa de energia para alavancar o crescimento”, disse.

A história ainda vai se incumbir de contar por que Moro se empenhou tanto na destruição da Petrobras com o discurso de que a estava protegendo.

O que se sabe até agora é que o maior beneficiário da ação da Lava Jato foram os Estados Unidos, seja porque estão exportando mais derivados ao Brasil, seja porque receberam diretamente recursos da empresa como parte de um acordo em que a Petrobras foi obrigada a indenizar fundos abutres americanos e entregar, via Departamento de Justiça, um cheque de 2,5 bilhões a Deltan Dallagnol.

Na entrevista a Boris Casoy, Moro ainda tentou explicar por que condenou Lula. “Muitas pessoas se locupletavam destes valores. O processo do ex-presidente é um processo que pertence ao passado. Eu nunca tive nenhum problema, nenhum animosidade pessoal em relação ao presidente. Eu simplesmente cumpri o meu dever. Me foram apresentadas as acusações, as provas, e eu apliquei a lei”, disse.

Faltou a pergunta:

“Que provas, doutor?”

Quem leu o processo sobre o triplex do Guarujá não encontra provas que justifiquem a condenação.