Moro é Barbosa amanhã. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 24 de abril de 2015 às 7:58
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Joaquim Barbosa estabeleceu um padrão de juiz vingador que está sendo seguido à risca por Sergio Moro. Servem ao mesmo propósito: encarnar a figura do salvador da pátria, do sujeito que vai acabar com a corrupção — leia-se, com o PT.

Barbosa foi açulado e adotado pela Globo — que o descartou assim que deixou de ter serventia. Não será diferente desta vez. Moro deveria saber disso e, fora tudo, manter uma distância regulamentar do estrelato passageiro, mas a vaidade e o messianismo o impelem adiante.

Sergio Moro recebeu das mãos de João Roberto Marinho o prêmio “Faz Diferença”, que homenageou os brasileiros que mais de destacaram em 2014. Há dois anos, quem recebeu a mesma comenda, todo pimpão, no Copacabana Palace Rio de Janeiro? Joaquim Barbosa, por sua atuação memorável no mensalão.

Os dois foram Personalidades do Ano e o roteiro foi absolutamente idêntico. Barbosa fez questão de dizer algumas palavras sobre a mídia no palco: “Vejo que a vida pública deve ser e tem que ser vigiada pela imprensa. Não consigo ver a vida do Estado e de seus agentes e personagens sem a vigilância da imprensa. Na minha concepção, a transparência e abertura total e absoluta devem ser a regra. Não se deve ter mistério para aqueles que exercem a atividade pública que eu exerço atualmente”, falou.

O discurso de Moro foi basicamente igual, talvez um pouco menos pretensioso. A imprensa tem tido um papel fundamental na Lava Jato “levando a informação de tudo o que acontece no processo para o público em geral”, disse. “É a Constituição que determina que o processo deve ser, em regra, público, e apenas, excepcionalmente, ser conduzido em sigilo.”

A fama é uma droga poderosa e todos já vimos o que ex-celebridades são capazes de fazer por um minuto da glória desaparecida. Aposentado, como uma espécie de ex-BBB, Barbosa tem usado o Twitter para ver se se mantém à tona.

Na quinta, 23, bajulou a emissora carioca de uma maneira constrangedora. “Parabéns à cinquentona TV Globo e aos profissionais que a construíram pedra-sobre-pedra. A Globo aproximou milhões de brasileiros a outros brasileiros, via língua, cultura, sotaques jamais antes imaginados”, escreveu.

Não parou aí. “Globo: fez pouco, mas já fez mais do que os seus concorrentes na ainda discreta, porém consistente inclusão de negros no seu jornalismo.”

Para além da sabujice, não faz o menor sentido. A Globo tem quatro negros de relativa relevância, os mesmos quatro há décadas, fazendo a mesma coisa (Glória Maria, Heraldo Pereira, Zileide Silva e Abel Neto).

Sergio Moro podia se tocar de que é Barbosa amanhã, mas agora é tarde demais. Moro é o Joaquim Barbosa de alma branca.