Moro e Weintraub simbolizam miséria política e intelectual do Brasil. Por Kennedy Alencar

Atualizado em 12 de dezembro de 2019 às 13:19

Publicado originalmente no Blog do Kennedy:

POR KENNEDY ALENCAR

O debate público no Brasil está muito pobre. A miséria política e intelectual do país cresceu demais nos últimos tempos.

Abraham Weintraub voltou a mentir a respeito de cultivo de drogas nas universidades federais. O ministro da Educação é a síntese dessa miséria intelectual e política. Foi leviano ao depor nesta quarta-feira na Comissão de Educação da Câmara. Levou informações falsas ao Congresso.

As universidades não têm envolvimento com plantio de maconha. Pode ter havido um caso ou outro de alguém que plantou um pé de maconha num terreno público.

É uma irresponsabilidade um ministro da Educação agir dessa forma em relação às universidades federais. Ele é um inimigo do ensino. É um semeador da ignorância e do ódio. Atua como ponta de lança dessa estratégia de guerra cultural do bolsonarismo, difundindo bobagens e mentiras.

O ministro foi ao Congresso Nacional fazer um papelão. É um cidadão que não tem condição de comandar a Educação. Fala mal e porcamente o português. Pensa mal. Espalha fake news. Repetindo: ocupa o Ministério da Educação uma pessoa que não tem gabarito para a função.

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É um perigo para a democracia

O ministro da Justiça, Sergio Moro, é outro que deveria tomar aulas de português. Assim como  Abraham Weintraub, Moro usa mal as vírgulas em particular e o idioma de modo geral. Mas vamos deixar isso de lado apesar de não pegar bem para quem tem formação de magistrado falar e escrever com tantos erros de português.

O importante é analisar um tuíte de Moro a respeito das críticas do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz. Entre as queixas de Santa Cruz, está a de não ser recebido em audiência no Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Segue o tuíte como Moro o escreveu (nem é dos piores): “Tenho grande respeito pela OAB, por sua história, e pela advocacia. Reclama o Presidente da OAB que não é recebido no MJSP. Terei prazer em recebê-lo tão logo abandone a postura de militante político-partidário e as ofensas ao PR e a seus eleitores”.

Segundo Santa Cruz, os apoiadores de Bolsonaro teriam desvio de caráter.

É inacreditável que um ministro de Estado imponha condições de abandono de suposta atitude de “militante político-partidário” para receber o presidente da OAB. A manifestação é de um autoritarismo enorme.

É aquela coisa: a ideologia está sempre nos outros, a militância está sempre nos outros. Moro não é um ideólogo de direita autoritário, não é um militante de um projeto regressivo para o Brasil.

O ministro da Justiça também costuma dar aula de jornalismo a respeito de reportagens e artigos de análise e opinião que o desagradam. Exibe visão medíocre sobre o exercício da função pública, como se o cargo fosse propriedade privada dele. Ele tem de receber, sim, o presidente da OAB, por mais que fique contrariado com críticas.

Moro está ministro, mas não tem compreensão da função pública. Demonstra visão estreita do cargo e propaga um mantra autoritário contra os críticos. Se há uma discordância, rapidamente a resposta de Bolsonaro, de ministros e da milícia digital é a de uma militância partidária, uma militância jornalística, uma militância eleitoral, uma militância partidária na advocacia e por aí vai…

Isso é loucura, porque a militância está sempre nos outros, a ideologia está sempre nos outros. Moro é o senhor da razão. Trata-se de estratégia para minar a credibilidade das instituições e dos críticos a fim de impor medidas autoritárias paulatinamente, normalizando absurdos.

Temos um ministro da Justiça que também não está à altura do cargo. Repetindo: Moro é a figura mais perigosa para a democracia brasileira.

Ele é autoritário. Não tolera críticas. Tem pensamento regressivo na área de segurança pública. Manifesta frequentemente visão atrasada a respeito do projeto para o Brasil. No entanto, goza de imagem muito boa na opinião pública, fruto do trabalho como cavaleiro do combate à corrupção, de paladino da Lava Jato. Essa boa imagem tem repercussão no cenário político e nos destinos do país.

Circula nas redes sociais, por exemplo, uma foto de Moro com dois homens que levaram uma suposta obra de arte com a imagem do ministro feita com cartuchos de bala. E o ministro da Justiça acha bom exibir isso. Faz até pose com mão na cintura.

Claro que esse episódio transmite uma mensagem errada para a política de segurança pública. O responsável por essa política pública deveria tomar mais cuidado. A mensagem estimula a violência.

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Elite irresponsável

Nesta quarta, o presidente da República falou de novo um monte de bobagens, inclusive recorrendo a informações erradas para opinar sobre a escolha do ministro da Defesa da Argentina. Bolsonaro não tem que se meter nesse assunto, ainda mais tão desinformado.

Apesar de inadequado, seria interessante que outros mandatários comentassem o nível do ministério do Bolsonaro. É um nível muito baixo. Com raras exceções, ministros não conhecem execução orçamentária. Até um estudo do governo concluiu que o programa Verde Amarelo não vale a pena, pois tem custo maior do que o benefício que pode gerar ao empregar jovens.

Mas essa equipe econômica do ministro Paulo Guedes é elogiada pelos empresários e o mercado financeiro. Essa elite deveria ter mais responsabilidade. Os empresários e o mercado financeiro precisam ter mais espírito crítico em relação ao que está acontecendo no país.

A reforma da Previdência só foi aprovada por causa do Centrão, de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e de Davi Alcolumbre, presidente do Senado. Não foi mérito de Guedes nem de Bolsonaro. Isso é um fato. Quem acompanha o poder em Brasília vê que a agenda econômica está nas mãos do Congresso.

Esse é um governo ruim, mas empresários e o mercado financeiro fingem não ver em nome de seus interesses. Estão se lixando para o país e o povo. Esse é o governo real que o Brasil tem. E os problemas reais que o país precisa resolver estão em segundo plano, passando ao largo do debate público.

Ontem, a Justiça revogou decisão de Bolsonaro de tirar os radares das rodovias federais. Há alto índice de mortes nas estradas. Claro que foi uma ideia absurda de Bolsonaro. Ainda bem que algum sistema de freios e contrapesos funciona.

A Justiça, o STF, o Congresso e a imprensa reagem. Ainda é possível fazer críticas no rádio, na TV, na internet e nos jornais. Muito bom.

A voracidade regressiva do governo Bolsonaro e o projeto de barbárie proposto ao país são imensos e demandam reação democrática e firme.

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Caindo da borda da Terra

Anunciada nesta quarta, a escolha da ativista sueca Greta Thunberg como personalidade do ano pela revista “Time” foi uma infeliz coincidência para o presidente Jair Bolsonaro, que a atacou de modo infantil e descortês nos últimos dias.

Greta ganha protagonismo por defender uma causa boa, a do meio ambiente. Bolsonaro ganha protagonismo por não prezar o meio ambiente. Ao contrário da sueca, o brasileiro termina o ano com uma péssima imagem internacional, o que prejudica a credibilidade do Brasil no exterior. O país perdeu importância no mundo em 2019 e deixou de ser respeitado como potência ambiental.

Bolsonaro tem atitudes que não estão à altura do cargo. Nesta quarta, criticou a imprensa brasileira por dar destaque às falas de Greta Thunberg na COP-25 na Espanha, dizendo que a sueca fazia um “showzinho” e voltando a chamá-la de “pirralha”.

Há uma visão autoritária do presidente sobre o papel da imprensa. Esse negacionismo ambiental, mentindo a respeito do desmatamento e das queimadas na Amazônia, envia uma mensagem errada doméstica e internacionalmente.

Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendem posições que contrariam todos os dados científicos sobre mudança climática. Ambos negam o evidente aumento da destruição ambiental no Brasil.

Bolsonaro, seus filhos políticos e seus apoiadores estão caindo da borda da Terra com esse terraplanismo ambiental. E o mundo inteiro assiste de camarote.