Em meio à disputa interna por poder no PSL e a ameaça de racha entre os membros da sigla, fica cada vez mais evidente que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, “passou a ser absolutamente subalterno ao projeto político do bolsonarismo”, analisa o professor do Departamento de Ciência Política a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Wagner Romão em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, o docente confirma sua avaliação apontando suspeitas sobre a atuação de Moro em casos essencialmente políticos, como quando o presidente Jair Bolsonaro, em viagem a Tóquio, no Japão, disse à imprensa que o ministro lhe vazou informações sigilosas sobre o laranjal do PSL, ou ainda a recente afirmação de que o presidente de seu partido, o deputado federal Luciano Bivar estaria “queimado”. Isso pode sugerir que a operação de busca e apreensão deflagrada nesta terça-feira (15), pela Polícia Federal, a endereços em Pernambuco ligados a Bivar, teria sido vazada novamente pelo ex-juiz, ou, pior, que a própria PF pode ter sido instrumentalizada para fazer perseguições. A Polícia Federal, embora seja um órgão autônomo, é subordinada ao Ministério da Justiça.
“Moro, ao aceitar fazer parte desse governo, se submeteu a esse projeto político autoritário, ultraliberal, contra o meio ambiente, direitos humanos, educação, e uma série de conquistas que foram feitas nos últimos 30 anos a partir da Constituição de 1988. Esse é o papel que ele está desempenhando hoje e por isso nós temos a desconfiança muito grande de que estava agindo não como chefe neutro da PF, mas como uma pessoa que está comandando um esquema de dentro da Polícia Federal que está beneficiando seu chefe mor, o presidente da República”, explica Romão.
Toda essa articulação do ministro atenderia sobretudo ao anseio de Bolsonaro em se sobrepor ao próprio PSL. O partido que o elegeu é hoje protagonista de uma série de denúncias como a de desvios de verbas públicas para bancar campanhas nas eleições de 2018, o que coloca em xeque o próprio discurso de combate à corrupção de Bolsonaro.
Com o principal “trunfo” desacreditado, toda essa movimentação no PSL indica uma disputa que visa o pleito do próximo ano, em que as cidades brasileiras elegerão prefeitos e vereadores, e novamente o discurso anticorrupção deve ser usado. “O fato é que acontece no PSL uma disputa fratricida, muito intensa de poder, onde as regras não estão claras e os personagens agem com todas as armas possíveis, inclusive com a ingerência da própria Polícia Federal”, afirma o cientista político. Antecipando as escolhas para o próximo ano e o peso das indicações internas, o presidente do PSL planeja retirar o comando do PSL em São Paulo e no Rio de Janeiro dos filhos do presidente da República, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP) e o senador Flávio Bolsonaro (RJ).
“Os filhos do Bolsonaro estão atuando fortemente porque entendem que esse projeto de poder que estão iniciando, estando muito ligado à família Bolsonaro, precisa se fortalecer no país todo. Isso que nós estamos vendo em nível nacional também se reflete em todas as grandes cidades do país, tendo em vista o que vai acontecer em 2020”, destaca o professor.