Moro está na situação em que falar significa alto risco de produzir provas contra si. Por Fernando Brito

Atualizado em 2 de julho de 2019 às 8:58
Sérgio Moro em entrevista ao Fantástico, da TV Globo. Foto: Reprodução/Twitter

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Com as baterias da vaidade carregadas pelos atos de domingo, em que “viu, ouviu e agradeceu” a sua elevação ao lugar de líder messiânico e como seu reingresso na condição de candidato a Presidente – já que a de ministro do Supremo se foi – no caso de algum tropeço pessoal de Jair Bolsonaro, Sérgio Moro vai hoje a uma audiência na Câmara para falar das revelações do The Intercept.

Uma armadilha e tanto para quem quer se colocar na posição de vítima de uma ação criminosa de hackers e de uma conspiração (internacional?).

Como se sairá ao tratar os (muitos) grupos que pediam o fechamento do STF e do Congresso dentro do Congresso que deveria ser fechado? Vejam, ele é o ministro da Justiça, justo o maior responsável no Executivo por operar a harmonia entre os poderes da República.

Vai se ver apertado a fazer uma condenação enfática dos golpistas que foram às ruas lhe dar apoio ou terá uma saída na linha do chefe Bolsonaro, que disse que acima das instituições está seu “patrão”, o povo?

Igual será apertado com as avaliações reveladas pelos diálogoso dos procuradores, criticando sua ida para o Ministério e dizendo que isso conspurcaria a própria Operação Lava Jato. Se à sua tropa Moro não convencia, porque há de querer que a opinião pública não tome sua nomeação como pagamento ou gratidão pelos serviços prestados à eleição de Bolsonaro.

O estoque de temas é farto , fartíssimo.

Como ministro da Justiça, será chamado a dar explicações sobre a carga de cocaína no avião presidencial, sobre a permanência de Marcelo Álvaro Antônio no Ministério do Turismo, mesmo depois de ter sua assessoria presa pela Polícia Federal e sobre sua ausência, apesar de ser o ministro da Segurança Pública, da lambança da proliferação de decretos armamentistas, entre outros.

Novamente Moro está na situação, bem conhecida em juízo, em que falar significa alto risco de produzir provas contra si.

Porque não sabe – ou se sabe, não pode admitir – que provas de sua interferência ilegal no processo contra Lula irão surgir.

Glenn Greenwald, líder da equipe que reporta o vazamento tem se mostrado bastante seguros em afirmar que Moro sabe, mais que ninguém, que elas existem.