Moro matou Marisa? Por Paulo Nogueira

Atualizado em 4 de fevereiro de 2017 às 11:48

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Num romance de Agatha Christie, uma pessoa é assassinada a bordo de um trem.

Quem matou?

Em mais uma de suas grandes tramas, Agatha revela, no final, que não havia um assassino — mas vários. Foi um homicídio coletivo: um grupo de pessoas dá, uma por vez, uma facada na vítima.

Esse romance me vem à cabeça quando penso na morte de Marisa Lula da Silva.

Nas redes sociais, muita gente atribuiu a Moro e à Lava Jato a tragédia de Marisa. Mais precisamente, as circunstâncias que tornaram sua vida um tormento e podem ter aberto as portas para o AVC.

Pessoas próximas a Lula, como conta a colunista da Folha Mônica Bergamo neste sábado, dizem que Marisa jamais se recuperou da brutalidade do depoimento coercitivo imposto a Lula.

Policiais armados invadiram a casa da família, vasculharam até a geladeira e levaram os iPads dos netos de Marisa. (Há poucas semanas, Lula contou que apreenderam também o celular de Marisa, com o qual ela papeava no “zapzap” com as amigas.)

Tudo isso — e mais os constantes rumores de que Lula seria preso — parece ter sido demais para Marisa. Só agora ela terá paz.

Mas Moro não estava sozinho na perseguição furiosa a Lula que tanto contribuiu para a morte de Marisa.

Como no livro de Agatha Christie, foi um ato coletivo. Muitas mãos estão manchadas de sangue.

As da Globo, por exemplo. Moro e a Lava Jato não seriam nada sem os holofotes ininterruptos da Globo. A mídia como um todo participou da caçada a Lula, com seu jornalismo de guerra. Mas nenhuma empresa se empenhou tanto na empreitada quanto a Globo, com a possível exceção da Abril com a Veja.

Os juízes do STF também têm sua cota, dada a inércia com que lidaram com os abusos de Moro.

De novo: Moro não está sozinho neste episódio tão dramático da vida brasileira. Outras mãos estão tingidas de sangue, e isso não deve ser esquecido.