Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, diz o Eclesiastes.
No novo normal brasileiro, um juiz que se porta como estrela de cinema na pré-estreia de um filme de propaganda que o endeusa é mais um fato do dia.
As cenas dignas de “Bastardos Inglórios” aconteceram em Curitiba, onde a hagiografia “Polícia Federal — A Lei é Para Todos” foi projetada.
Sergio Moro, Deltan Dallagnol e mais alguns membros do elenco fizeram selfies com os fãs, deram entrevistas, posaram para os pararazzi.
Lauro Jardim conta no Globo que Moro e o colega Marcelo Bretas, do Rio, aquele que vive num cabo de guerra com Gilmar Mendes em torno do Barata, fizeram questão de entrar pisando o tapete vermelho colocado para os atores na entrada.
Ninguém pagou ingresso, obviamente. Tudo boca livre.
O Código de Ética da Magistratura reza o seguinte, entre outras coisas:
Art. 16. O magistrado deve comportar-se na vida privada de modo a dignificar a função, cônscio de que o exercício da atividade jurisdicional impõe restrições e exigências pessoais distintas das acometidas aos cidadãos em geral.
Art. 17. É dever do magistrado recusar benefícios ou vantagens de ente público, de empresa privada ou de pessoa física que possam comprometer sua independência funcional.
Mas quem se importa com essas bobagens?
Em março do ano passado, Teori Zavascki falou sobre Moro sem declinar o nome.
Foi num evento em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, onde ele recebeu o título de cidadão da cidade.
“O princípio da imparcialidade pressupõe uma série de outros pré-requisitos. Supõe, por exemplo, que seja discreto, que tenha prudência, que não se deixe se contaminar pelos holofotes e se manifeste no processo depois de ouvir as duas partes”, declarou.
“O Poder Judiciário tem de exercer seu papel com prudência, com serenidade, com racionalidade, sem protagonismos, porque é isso que a sociedade espera de um juiz”.
Depende do juiz. Depende da sociedade. Não o nosso. Não a nossa.