Moro não assinou demissão de Valeixo, mas o nome dele está no decreto, o que indica fraude. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 24 de abril de 2020 às 13:22

Jair Bolsonaro tem uma chance de não permitir que Moro se torne herói em cima da carniça dele: divulgar os podres sobre o agora ex-ministro da Justiça.

Moro bateu pesado em seu pronunciamento de despedida e fez uma revelação que pode indicar fraude de Bolsonaro.

“Eu não assinei esse decreto de exoneração”, disse, a respeito do ato publicado no Diário Oficial da União durante a madrugada de hoje que formaliza a saída de Maurício Leite Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal.

No decreto de exoneração, porém, aparece o nome de Moro como um dos signatários, logo abaixo do nome Bolsonaro. Se ele não assinou, houve fraude.

Confirmada a falsidade, eis mais um motivo para o impeachment de Bolsonaro, além daqueles que foram divulgadas no pronunciamento. O mais grave foi o relato de que Bolsonaro quer interferir politicamente na Polícia Federal, que investigou a indústria das fake news e agora atuará no inquérito sobre as manifestações golpistas de domingo passado, casos que podem envolver dois filhos do presidente.

Se não reagir, Bolsonaro não conseguirá deixar de ser o presidente do cercadinho do Alvorada, onde o gado bolsonarista é colocado todos os dias para divertir o chefe.

Ou Bolsonaro não tem nada que comprometa Moro?

Quando Moro disse que Bolsonaro quer relatórios da PF sobre investigações em curso, ele pode se defender com o argumento de que recebeu do próprio ex-juiz relatórios de inquéritos sigilosos, o que seria crime — no caso de Moro.

No ano passado, Bolsonaro disse que Moro lhe havia relatado sobre o caso de laranjas que envolve o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Moro também manteve Bolsonaro informado sobre o inquérito dos hackers apontados como fonte do escândalo da Vaza Jato.

Bolsonaro poderia dizer também em detalhes como o ex-juiz foi para o Ministério da Justiça.

O próprio Moro já admitiu que, entre o primeiro e o segundo turno das eleições, conversou com Paulo Guedes sobre sua ida ao governo.

Ao mesmo tempo, sua esposa e filha faziam campanha para Bolsonaro na rede social. Era um apoio ideológico ou já havia o compromisso de Moro de ir para o governo?

Bolsonaro deve saber.

Na véspera do primeiro turno, Moro liberou um anexo da delação de Antonio Palocci — que tinha provas, mas acusações contra Lula e o PT que foram exploradas pela velha imprensa.

Moro também foi responsável pela eleição de Bolsonaro ao condenar aquele que era favorito nas pesquisas, Lula.

Como magistrado, Moro foi muito além da atuação técnica. Fez tudo isso da própria cabeça ou havia conexão com um movimento político mais amplo?

Bolsonaro deve saber.

O ex-juiz caiu atirando. Bolsonaro vai tombar sem reagir?