Moro se irritou com a pergunta sobre recebimento de dinheiro no exterior. Por quê? Bastava dizer não

Atualizado em 7 de julho de 2019 às 11:21

Russo é o apelido pelo qual Sergio Moro é tratado pelos procuradores e delegados da Lava Jato. Mas não é só na operação de Curitiba que há um Russo misterioso.

No ação penal contra Rodrigo Tacla Durán, há cópias de e-mails atribuídos a ele que também fazem referência a Russo.

O e-mail saiu da conta [email protected], que a Lava Jato atribui ao ex-prestador de serviços da Odebrecht (o advogado Tacla Durán), e informa sobre supostas transferências para Russo.

Um dos e-mail é de 25/07/2019 e informa “100000 ENTREGUE RUSSO”.

Outro e-mail é de 14/01/2019 e registra outras supostas transferências, a serem feitas nos dias seguintes:

ELDORADO=78.000,00.

CANÁRIO=130.000,00

PORRA=29.000,00

TRANS=1.500,00

Russo aparece no lote para o dia 16/01:

TRANS=1.500.000,00

RUSSO=361.000,00

ALOPRADO=30.000,00

No dia 29/01/2014, novas transferências são informadas. Desta vez, o destinatário do e-mail é BMW135, que segundo a Lava Jato era Wu-Yu Sheng, chinês responsável por conseguir reais em espécie para ser usado no esquema de câmbio paralelo.

BlackZ (que seria Tacla Durán) informa:

Dia 29/01:

R$ 150.000,00 p/ RUSSO.

Dia 30/01:

R$ 203.000,00 – RUSSO.

Os e-mails têm como título “programação/alteração”.

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No dia em que Moro foi interrogado na sessão conjunta da Câmara dos Deputados, na terça-feira, a deputada Glesi Hoffmann, presidente do PT, disse:

“É muito bom ver o senhor aí na frente sendo inquirido por parlamentares, assim como foi no Senado, o senhor, o juiz, hoje ministro do Bolsonaro, arauto da moralidade, inquiriu muita gente, muitas vezes de forma arrogante, como fez com o presidente Lula, e condenou-o antes de jugar. É verdade que o senhor não está sendo investigado, mas o senhor está em processo de julgamento no Supremo Tribunal Federal por suspeição, por um habeas corpus do presidente Lula. E também não é verdade que o senhor sempre age corretamente ou que só tem críticas à Lava Jato. Eu quero lembrar aqui que temos algumas ações judiciais que já cassaram decisões suas. Aliás, tem uma grande, de 2008, que anulou uma operação que o senhor coordenava, que é a Operação Por do Sol, por escutas ilegais e tempos ilegais dessas escutas’.

Gleisi então pergunta:

“Você ou sua esposa já receberam, direta ou indiretamente, valores do exterior?”

Moro considerou a declaração maluquice e demonstrou muita irritação:

“Em relação a questões contas no exterior, coisas assim, isso aí é maluquice, não tem nada, não tem conta no Exterior ou coisa que o valha”.

Enrolando a língua, ele também declarou:

“Nunca recebi dinheiro do superior (quis dizer exterior), sempre agi com absoluta correção em relação a meus procedimentos. Se alguém quer me acusar disso, então apresente algum elemento”.

Olhando com expressão de raiva para Gleisi, comentou:

“Não existe nada, nada… E não sou eu que sou investigado por corrupção”.

Tacla Durán não fala sobre o conteúdo dos e-mails, mas, se se quer verificar se existe algo em relação a Moro relacionada a contas no exterior, um depoimento do advogado que hoje mora na Espanha poderia ser um ponto de partida.

O problema é que, como o diabo que foge da cruz, Moro, quando juiz, rejeitou qualquer possibilidade de tomar o depoimento de Rodrigo Tacla Durán, solicitada pela defesa de Lula.

O TRF-4, com relatoria do desembargador João Pedro Gebran Neto, amigo de Moro, manteve a decisão de não ouvir Tacla Durán.

Por que temem tanto Tacla Durán?

A operação Por do Sol a que fez referência Gleisi foi anulada pelo STF, em razão de escutas telefônicas ilegais autorizadas por Moro.

O dono da empresa Sundown, Rolando Rozenblum,  chegou a ficar preso, mas protagonizou fuga espetacular e foi viver no Uruguai, onde tem cidadania.

Tem empresa em Punta Del Este e não deve nada à Justiça brasileira, depois que o processo conduzido por Moro foi anulado pelo STJ, em razão dos abusos cometidos pelo ex-juiz, muito parecidos com os verificados nos processos relacionados a Lula.

A Sundown foi uma das líderes do mercado de bicicletas até seu proprietário ser acusado de lavagem de dinheiro em um desdobramento do caso Banestado, que tinha Moro como juiz.

O Russo que aparece no e-mail de Tacla Durán é o mesmo que aparece na Lava Jato?

É só uma pergunta, nada mais.

Tacla Durán poderia responder, mas, para isso, teria de ser ouvido pela Justiça brasileira, nas mesmas condições em que foi ouvido nos Estados Unidos e na Espanha, onde é considerado colaborador.

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Veja o vídeo em que Moro aparece com expressão de ódio: