Moro vai se arrastar como barata na mão de Bolsonaro por um ano e meio por uma vaga no STF. Por José Cássio

Atualizado em 13 de maio de 2019 às 11:57
Jair Bolsonaro e Sérgio Moro. Foto: SERGIO LIMA / AFP

Na semana em que correu o risco de perder o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – transferido do ministério da Justiça para o da Economia – e reclamou do constrangimento de ver a Polícia Federal com cada vez mais indícios de envolvimento da família do presidente com ilícitos administrativos e relações promíscuas com as milícias do Rio, Sergio Moro ganhou um prêmio de consolação: Bolsonaro disse ao apresentador Milton Neves que tem o compromisso de indicá-lo para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).

“A primeira que tiver, eu tenho esse compromisso com Moro, e se Deus quiser nós cumpriremos. Acho que a nação toda vai aplaudir um homem desse perfil lá dentro do STF”, disse o presidente.

Não é bem isso o que se viu nas redes sociais. Durante todo o domingo, ao contrário do que imaginou Bolsonaro, a web caiu matando: a hashtag #MoroVendido foi parar entre os assuntos mais comentados do Twitter, com quase sete mil mensagens nos Trending Topics.

O assunto também ganhou o noticiário internacional e foi parar no New York Times e em diversos outros jornais, todos ressaltando que Moro condenou Lula e o impediu de concorrer nas eleições contra o próprio Bolsonaro.

Até o início desta segunda, 13, Moro ainda não havia se manifestado sobre o conteúdo das declarações de Bolsonaro, inclusive porque sabe que a jornada até a tão desejada vaga demora um bom tempo e é bem difícil de se concretizar: a próxima janela no STF será aberta apenas em novembro do ano que vem com a aposentadoria do decano Celso de Mello.

Embora tenha assumido com status de superministro, ele sabe que ainda não apresentou resultados que justifiquem tamanha popularidade.

Pelo contrário, a realidade tem sido dura nesses primeiros meses: Moro vem sofrendo derrotas no governo e no legislativo e se mostrado fraco e sem expressão.

Um exemplo é o seu chamado pacote anticrime.

Tentou cobrar agilidade no processo, mas teve de ouvir um desaforo do presidente da Câmara: além de chama-lo de “empregado de Bolsonaro”, Rodrigo Maia disse que o texto nada mais era que um “copia e cola” de um trabalho já realizado anteriormente por Alexandre de Moraes.

A se julgar por outras situações, o presidente da Câmara não está exagerando: Moro não passa mesmo de um auxiliar acovardado.

No decreto das armas, por exemplo, teve ignorada sua proposta de limitar o registro de apenas duas por pessoa – o decreto fixou o número em quatro.

No escândalo de candidaturas de laranjas do PSL de Minas, deu declarações evasivas de que a PF iria investigar se houvesse necessidade e que não sabia se havia consistência nas denúncias, para em seguida ver o próprio Bolsonaro determinar a abertura de investigações para apurar o esquema.

Por ordem do chefe, a proposta de criminalização do caixa dois, elaborada por Moro, vai tramitar separadamente do restante do projeto anticrime.

Nada, porém, foi tão humilhante quanto o caso Ilona Szabó, quando Moro teve de demitir a especialista em segurança pública por determinação de Bolsonaro após Olavo de Carvalho e seus seguidores, incluindo os próprios filhos do presidente, apontarem que ela seria contrária ao afrouxamento das regras de acesso a armas.

Para pôr ainda mais aflição em Moro, Bolsonaro também não vem ajudando.

Trata-se de uma opinião generalizada entre governistas e oposição no Congresso.

Falhas amadoras de comunicação, intrigas desnecessárias com generais, um guru esquizofrênico e a ausência de uma agenda mínima para o país levam muitos a acreditar que o presidente corre sério risco de ter o mandato interrompido antes de 2022.

Neste caso, adeus sonho do bilhete premiado do STF.

Enquanto o governo se mantém de pé, Moro dá sinais de que vai se sujeitar a toda sorte de humilhação e se arrastar feito barata torcendo para que o tempo passe o mais rápido possível.

Também não tem muita opção.

Para assumir o ministério da Justiça, após comandar a farsa da prisão de Lula na Lava Jato, abriu mão de 22 anos de magistratura.

Certamente não gostaria de ter de começar tudo de novo arriscando a sorte em um escritório em sociedade com a mulher ou tendo de voltar aos livros para prestar um novo concurso e continuar fazendo o que gosta – e sabe: se garantir na estabilidade estatal para, na pele de magistrado, continuar atuando como político.