Danilo Santos de Miranda, sociólogo, filósofo e ex-seminarista, faleceu neste domingo, 29, aos 80 anos. Durante quatro décadas de dedicação ao Sesc em São Paulo, Miranda consolidou-se como uma das figuras mais marcantes da cultura paulistana, recebendo admiração e reconhecimento por seu compromisso e contribuição.
Sob sua liderança, o Sesc, originalmente uma entidade voltada ao setor comercial, transformou-se em um gigante cultural brasileiro. A combinação de seu caráter visionário, humanista e um orçamento robusto o elevou à posição de principal gestor cultural do país. Sua direção expandiu o Sesc, inaugurando várias unidades e promovendo a acessibilidade e integração com atividades que incluíam esportes, lazer, arte e gastronomia.
Miranda também foi pioneiro em estabelecer um modelo de fomento cultural, que se tornou referência para políticas públicas de incentivo à cultura no Brasil. Frequentemente seu nome era associado ao Ministério da Cultura, embora nunca tenha recebido um convite oficial. Mas isso não o impediu de colaborar com projetos culturais de diversas inclinações políticas.
Com uma paixão evidente pelo teatro, promoveu um leque vasto de expressões artísticas no Sesc. Artistas renomados e colegas frequentemente enfatizavam o papel inestimável de Miranda no cenário cultural brasileiro.
Nascido em Campos de Goytacazes, RJ, em 1943, a trajetória de vida de Miranda é repleta de dedicação à cultura e ao bem-estar social. Seu início na carreira foi no Sesc em 1968, e ao longo dos anos, sua parceria com Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, resultou em uma expansão significativa da rede Sesc.
Miranda também enfrentou desafios ao longo de sua jornada, como divergências com a arquiteta Lina Bo Bardi sobre o projeto da unidade Pompeia. Ele sempre acreditou que a cultura era um direito cidadão e não deveria ser influenciada por pressões de mercado ou políticas.
Nos últimos anos, defendeu o modelo de financiamento do Sesc contra propostas de reestruturação por diferentes governos. O orçamento do Sesc chegou a R$ 2,4 bilhões em 2022, destacando a importância e influência da instituição na cultura brasileira.
Durante a pandemia, apesar de seguir as recomendações de isolamento, Miranda foi diagnosticado com a doença em duas ocasiões. Sendo diabético, sua saúde foi afetada após os episódios. Apresentou perda de peso significativa e parecia menos animado, frustrado com as limitações físicas em meio a uma agenda intensa e a distância das atividades do Sesc.
“O Brasil tem condições de melhorar as coisas para o futuro, mas tudo isso envolve política, sim, envolve economia, sim, mas envolve, sobretudo, a cultura e o convencimento a respeito de quem nós somos. E que papel temos nós – os brasileiros comuns – nisso?”, questionou em sua última entrevista.
“Temos que colaborar na nossa atividade, no nosso dia a dia. Eu, pessoalmente, tenho o privilégio e a responsabilidade de atuar no nível pessoal e de colaborar no nível institucional para, quem sabe, alcançarmos um futuro menos desigual.”