Morre o cientista Rogério Cezar de Cerqueira Leite, que previu o fim trágico de Moro

Atualizado em 1 de dezembro de 2024 às 10:09
O cientista Rogério Cezar de Cerqueira Leite

Rogério Cezar de Cerqueira Leite, engenheiro eletrônico, físico e um dos mais destacados intelectuais brasileiros, morreu neste domingo aos 93 anos.

Professor com passagens pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade de Paris, Cerqueira Leite deixa um legado acadêmico e político marcante. Na Unicamp, liderou a criação do Departamento de Física do Estado Sólido e dirigiu o Instituto de Física, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da ciência brasileira.

Obteve cerca de 3 mil citações em revistas científicas, segundo o Science Citation Index, e foi agraciado com a comenda da Ordem Nacional do Mérito da França.

Com uma sólida formação acadêmica e forte presença no debate público, Cerqueira Leite também era conhecido por sua atuação implacável a favor da democracia.

Em 2016, escreveu um artigo profético na Folha comparando o então todo-poderoso chefão da Lava Jato a Girolamo Savonarola: “A história tem muitos exemplos de justiceiros messiânicos como o juiz Sergio Moro e seus sequazes da Promotoria Pública”.

O padre dominicano combateu a “corrupção” em Florença, desafiou a Igreja apresentando-se como defensor puro da fé católica e criou a Fogueira das Vaidades, quando fanáticos destruíram milhares de objetos “pecaminosos” como cosméticos, obras de arte e livros. Foi queimado vivo em 1498.

Burro, Moro produziu uma resposta à Folha afirmando que Leite “chega a sugerir atos de violência contra o ora magistrado”.

Cerqueira teve de pedir espaço no jornal no qual era membro do conselho editorial para sua tréplica: “O fogo a que me refiro é o fogo da história. Intelectos condicionados por princípios de intolerância não percebem a diferença entre metáforas e ações concretas”.

Em 2021, denunciou que não havia “maior ignomínia” que colocar Lula e Bolsonaro “no mesmo saco”. Tornou-se uma das vozes mais duras contra o governo de Jair Bolsonaro, apontando retrocessos em áreas como ciência, educação e meio ambiente.

Frequentemente associava a gestão do ex-presidente, que comparou a Hitler, ao que chamou de “negligência programada,” alertando para o impacto dessa postura na sociedade brasileira.