
Morreu às 5h deste sábado (2), de infarto, o jornalista José Roberto Dias Guzzo, conhecido como J.R. Guzzo. Ele tinha 82 anos e era colunista da Revista Oeste, da qual foi um dos fundadores.
Paulistano, Guzzo teve carreira longa e influente no jornalismo brasileiro, com passagens por importantes veículos da grande imprensa.
Começou a carreira nos anos 1960, na Última Hora. Depois foi para o Jornal da Tarde, dirigido por Mino Carta. Seu nome se consolidou no comando da revista Veja, da qual foi diretor de redação entre 1976 e 1991, período em que a publicação atingiu seu auge em circulação e influência.
Sucedera Mino, cuja cabeça foi pedida pela ditadura e entregue pelos patrões Victor e Roberto Civita. Foram seus anos dourados, numa parceria com o diretor adjunto Elio Gaspari. Ao contrário de Mino, Guzzo era conservador e papista.
Saindo da Veja, teve atuação destacada na Exame, transformando-a na publicação mais rentável da Abril, em termos relativos. Na Exame, contou com Paulo Nogueira para fazer o trabalho duro (Paulo seria fundador do DCM). Tinha direito a uma parte dos lucros, algo que negociou com Roberto Civita e era inédito na mídia até então. Ficou rico.
Encerrado o ciclo na Exame num episódio em que ele foi acusado de corrupção no livro “Notícias do Planalto”, de seu ex-pupilo Mario Sergio Conti, ficou um tempo ganhando para não fazer nada, apenas dando pitaco nas revistas da casa, e tinha uma coluna na Veja. Foi demitido em 2019 após ataques baixos ao ministro do STF Gilmar Mendes. Gilmar era um alvo preferencial de Guzzo. Através dele, atacava o STF, em sintonia com o bolsonarismo.
Gilmar mandou-lhe uma resposta a um artigo viperino, com cópia para o então diretor de redação, André Petry. O e-mail saiu no livro “Os Onze”, de Felipe Recondo e Luiz Weber.
Segundo Gilmar Mendes, o texto parecia perpetrado “por um irresponsável ou por um bêbado”. “Você diz que eu represento o atraso. O que dizer de você, GUZZO, que aparece nos PANAMA PAPERS sem qualquer explicação? Por que você mandou dinheiro para o exterior de forma irregular? Qual a razão? O que você vendeu? Terrenos, casas? Ou artigos e reportagens? Por que escondeu dinheiro nos PANAMA PAPERS? Como jornalista, você exerce função de caráter público e deve explicação”, afirmava Gilmar.
“As pessoas precisam saber que as informações que você veicula não são vendidas nem compradas. Quem é o subdesenvolvido na relação, GUZZO? GUZZO, eu, representante do Brasil atrasado, tenho um apartamento em Lisboa, comprado em 2016. Mandei o dinheiro pelo BANCO DO BRASIL e coloquei tudo no imposto de renda. Nada tenho que esconder. Mas, você, representante do Brasil evoluído, tem conta em offshore, que não está registrada na Receita Federal”.
Era o início da última encarnação de Guzzo, na pele de guru do fascismo, uma espécie de Olavo de Carvalho da imprensa. Em 2020, ajudou a fundar a Revista Oeste, uma cloaca golpista. Lá, atuava como conselheiro editorial e principal colunista. Se, no passado, era admirado pelos colegas, passou ser idolatrada por desqualificados como Rodrigo Constantino, Alexandre Garcia (que Guzzo desprezava, aliás), o escroque Paulo Figueiredo e uma jogadora de vôlei de extrema-direita que mora nos EUA.
Com sua morte, encerra-se uma trajetória de mais de 60 anos de atuação, marcada por uma transição entre o jornalismo corporativo e o ativismo ideológico a serviço do que o Brasil tem de pior. Como ele gostava de dizer: a quem apelar?
Letras em funeral. José Roberto Guzzo, 82. O jornalismo perde seu texto mais brilhante, mais destemido. Guzzo turbinou a Veja, inspirou a Oeste, valorizou o Estadão, a Gazeta do Povo; foi modelo de jornalismo atento e crítico. Permanece em nós como inspiração. pic.twitter.com/DCzYHDM4mr
— Alexandre Garcia (@alexandregarcia) August 2, 2025
Que notícia triste!!!! Foi um mestre, uma referência, um dos melhores. Que descanse em paz! 🙏🏻 pic.twitter.com/6ATeZOk0M1
— Rodrigo Constantino USA (@tudoconstausa) August 2, 2025
Guzzo deixou seu último recado‼️
De qual lado você está⁉️ pic.twitter.com/uyezP0cEoe
— ℹ️IaraGB 🐒💨L🌻👉🇧🇷 (@iaragb) August 2, 2025
Letras em funeral. José Roberto Guzzo, 82. O jornalismo perde seu texto mais brilhante, mais destemido. Guzzo turbinou a Veja, inspirou a Oeste, valorizou o Estadão, a Gazeta do Povo; foi modelo de jornalismo atento e crítico. Permanece em nós como inspiração. pic.twitter.com/DCzYHDM4mr
— Alexandre Garcia (@alexandregarcia) August 2, 2025