
Morreu hoje o jornalista Octávio Tostes, que trabalhou muito tempo na TV Globo e estava atualmente na Record. Tostes não resistiu a uma parada cardíaca.
Tostes foi o responsável por duas edições do último debate entre Lula e Fernando Collor, em 1989, quando ele trabalhava na Globo.
A primeira edição, exibida no Jornal Nacional e supervisionada por Francisco Vianey Pinheiro, o Pinheirinho, era honesta, refletia o que havia ocorrido na noite anterior.
A segunda edição, supervisionada por Ronald de Carvalho e Alberico de Souza Cruz, sem conhecimento do diretor de jornalismo Armando Nogueira, foi absolutamente desonesta e entrou para a história como um dos mais vergonhosos trabalhos do jornalismo brasileiro.
Em seu livro “Notícias do Planalto”, Mario Sergio Conti narra o episódio.
Faltavam vinte minutos para o JN entrar no ar quando Pinheirinho percebeu uma movimentação no corredor das ilhas de edição na sede do jornalismo, na rua Von Martius, Jardim Botânico.
Ele se dirigiu a Tostes.
— O que você está fazendo? — perguntou Pinheirinho.
— A edição do debate — respondeu Tostes.
— Mas ela já está pronta, é a mesma do Hoje.
— Não, o Ronald e o Alberico mandaram refazer tudo. Não acabei ainda. Não vai dar para mandar a fita agora.
“Pinheiro viu um trecho da nova edição e ficou possesso. Considerou que a nova versão mostrava Collor massacrando Lula e achava que isso não acontecera no debate. Pinheiro foi para a redação. Estava transfigurado. Disse que ia subir à sala de Souza Cruz para enchê-lo “de porradas”. Colegas o seguraram e o empurraram até o pátio na entrada da emissora, onde, tremendo, fumando e praguejando, Pinheiro esperou o Jornal Nacional ir ao ar e voltou à redação para assistir”, escreveu.
“Na condensação do Jornal Nacional, Lula falou sete vezes, Collor, oito: teve direito a uma fala a ais que o adversário. No total, Lula falou 2min22. Collor, 3 min34: 1min12 a mais que o candidato do PT. No resumo do JN, Collor foi o tempo todo sintético e enfático, enquanto Lula apareceu claudicante, inseguro e trocando palavras (cerca em vez de seca). É possível argumentar que a escolha das falas dos dois candidatos tentou refletir o conteúdo total do debate. Mas é impossível defender que o Jornal Nacional buscou espelhar o debate de modo neutro e fiel”, acrescentou.
Uma das metas do jornalista é estar no lugar certo na hora certa. Nesse caso, sem autonomia para decidir o que iria ao ar, Tostes estava no lugar errado, na hora errada.
Quando a redação de Boris Casoy estava sendo desfeita pela Record, por decisão do bispo Edir Macedo, encontrei Tostes, com quem trabalhei pouco tempo.
Ele ajudou Douglas Tavolaro a montar a equipe que nos sucederia e que, na verdade, assumiu uma linha editorial que se mantém até hoje.
Tostes, no entanto, sempre foi visto como boa praça, profissional de bons relacionamentos. Quando o revi numa tabacaria, ele disse que estava orientando a equipe do jornal da Universal do Reino de Deus e chegou a me mostrar um exemplar, e perguntou o que eu achava.
O corpo de Tostes será cremado neste domingo, às 14h, no Cemitério São Francisco Xavier, no bairro do Caju, no Rio de Janeiro, em cerimônia reservada para a família.