Morre Shere Hite, a destruidora de tabus. Por Lola Aronovich

Atualizado em 12 de setembro de 2020 às 13:57

 

Originalmente publicado por Escreva Lola Escreva

 

Por Lola Aronovich

 

Shere Hite morreu na quarta-feira na sua casa em Londres aos 77 anos.

Li O Relatório Hite, um bestseller sobre sexualidade feminina (vendeu 48 milhões de cópias em todo o mundo!), na minha adolescência. Foi marcante pra mim, embora eu não me lembre de quase nada agora, quase 40 anos depois.

O obituário sobre Hite publicado no New York Times é ótimo. Eu não sabia praticamente nada sobre sua vida, só sobre sua obra (que você pode encontrar aqui). Coloco aqui, adaptados, alguns dos melhores momentos do texto:

 

O livro de 1976 mostrava que as mulheres podem ter prazer sexual sozinhas. Hoje, isso é óbvio. Na época, não era.

O livro mais famoso de Hite veio na segunda onda do feminismo e depois da revolução sexual dos anos 1960, que permitiu que mulheres fizessem sexo sem compromisso (como os homens sempre fizeram), mas que não tinha alterado a dinâmica falocêntrica na cama. A quantidade de sexo tinha subido, não a qualidade.

Muitos homens, obviamente, ficaram chocados e bravos com o Relatório Hite. Ela estava dizendo que eles faziam tudo errado! A revista Playboy (pra qual algumas feministas ainda passam pano) fez um trocadilho com o nome da autora e chamou o livro de Relatório Hate (Ódio). A direita cristã também foi outra que detestou o livro — viu (vê ainda) o incentivo ao prazer sexual feminino como destruidor das famílias.

 

Em 1981 Hite publicou outro relatório, desta vez focando na sexualidade masculina. Constatou através de 7 mil entrevistas que raiva reprimida e infidelidade eram comuns nos casamentos americanos. Com seu terceiro livro, ela passou a receber ameaças de morte. Mudou-se pra Europa. Renunciou a sua cidadania americana em 1995.

Uma anedota que achei demais:

Quando Hite fazia pós-graduação em Columbia — desistiu do doutorado porque não a deixaram escrever sobre sexualidade feminina –, pagou a faculdade como modelo (ela era linda). Entre seus trabalhos, ela posou pra Olivetti. Quando ela viu o texto do anúncio (“uma máquina de escrever tão inteligente que ela [a modelo] não tem q ser”), juntou-se a um protesto contra a marca.

Foi protestar contra o anúncio em que ela aparecia. Assim nasceu seu feminismo. (Se alguém encontrar esse anúncio, manda pra mim? Procurei mas não achei!)

No Guardian diz que ela era a única pesquisadora de sexo na época que era feminista. E foi vilipendiada, ameaçada de morte e chamada de odiadora de homens (foi casada duas vezes, a primeira com um pianista alemão 19 anos mais novo) simplesmente por constatar que inúmeras mulheres não tinham orgasmo com a penetração.

 

Pra terminar este post curtinho, uma leitora escreveu: “Muito interessante! Quero ler mais sobre ela. Outro dia estava lendo a respeito de Beate Uhse, dona da primeira sex shop do mundo, que começou a vender produtos para esposas de soldados. Ela era piloto de avião. Só fera!”