Morte de ex-assessor de vereador lembra o atentado que vitimou Zuzu Angel. Por Denise Assis

Atualizado em 30 de maio de 2022 às 13:56

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Denise Assis

“O ex-assessor Vinícius Hayden Witeze, que denunciou o vereador Gabriel Monteiro pela prática de assédio moral e sexual, morreu na noite de sábado (28), num acidente de trânsito em Teresópolis, na Região Serrana” (O Globo – 29/05/2022).

O texto é “asséptico”, “olímpico”, objetivo e direto como convém a um noticiário. Impossível, no entanto, não lembrarmos imediatamente do acidente que levou à morte a estilista Zuzu Angel – que dá nome ao túnel que liga a Gávea a São Conrado na Zona Sul do Rio -, por denunciar a morte do filho, Stuart Angel Jones, pelas forças repressivas da ditadura (1964/1985). Zuzu capotou com o carro na madrugada de 14/04/1976, depois de ter sido abalroada pelo veículo de um agente, conforme restou provado.

De acordo com a Polícia, o carro de Hayden capotou na RJ-130, que liga a cidade de Teresópolis a Nova Friburgo, e ele teve morte instantânea. Hayden estava acompanhado de uma mulher – não identificada -, que foi levada para o Hospital das Clínicas de Teresópolis.

O acidente foi registrado na 110ª DP (Teresópolis) e no boletim de ocorrências consta que no interior do carro de Hayden foram encontradas cópias do “termo de declaração” das denúncias feitas por ele, na última quarta-feira,(25/05) em decorrência das investigações que envolvem o vereador do Gabriel Monteiro, num suposto crime de assédio sexual.

Embora a acompanhante de Hayden na hora do acidente descarte a participação de “terceiros”, foi feita perícia no local. De acordo com a Polícia Civil, em seu testemunho a mulher disse que Hayden estava em alta velocidade e perdeu o controle do veículo, numa curva, ao tentar frear, resultando no capotamento.

Segundo policiais da 110ª DP (Teresópolis), a vítima sobrevivente já foi ouvida informalmente e recebeu alta, ficando de voltar neste domingo (29/05) para formalizar as informações.

Ainda assim, o delegado titular da 110ª DP fez requisição ao diretor do Departamento-Geral de Polícia Técnico-Científica para que uma equipe do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICE), em conjunto com peritos do PRPTC de Teresópolis, realizem uma perícia aprofundada, a fim de apurar possível adulteração na parte mecânica, elétrica ou do sistema de alimentação de combustível, que pudesse contribuir para o acidente.

O atentado que vitimou a estilista Zuzu Angel, levando o seu carro a capotar naquela madrugada de 14/4/1976 foi apurado pela Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio) e pela Nacional da Verdade (CNV) e consta dos relatórios finais de ambas as comissões. Durante muitos anos a jornalista Hildegard Angel, sua filha, lutou para provar que Zuzu havia sido morta pela repressão, e não vítima de um “cochilo”, como quis fazer crer a Polícia, na época.

É possível que Hayden tenha mesmo perdido o controle do carro, mas em tempos de “excepcionalidades” convém que todas as hipóteses sejam, mesmo, analisadas até serem descartadas. Há crimes impunes e questões sem respostas de sobra, como as circunstâncias da morte do miliciano Adriano da Nóbrega e o nome dos mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, por exemplo.

Zuzu, antes de ser morta, deixou um alerta, sob a forma de bilhete, encaminhado ao amigo e compositor Chico Buarque. Hayden, em tempos modernos, preferiu gravar um vídeo a dar entrevistas. E, embora sem querer falar sobre o depoimento contra o vereador, o assessor, em seu vídeo, diz que também recebeu ameaças.

“Perdi a minha liberdade. Tenho que andar de carro blindado, colete à prova de balas. Tenho que cercear o meu direito de ir e vir, de sair a hora que eu quero porque o vereador gravou vídeos expondo o meu número pessoal, me colocando como se fosse uma pessoa que tivesse negociado com uma pseudo máfia do reboque, que ele vive falando que é tudo a máfia do reboque dele”, disse Hayden na gravação.

Na quarta, (25), quando foi depor contra o vereador no Conselho de Ética da Câmara do Rio, o ex-assessor usou colete à prova de balas e comentou que estava andando com escolta, recebendo recados ameaçadores e tinha perdido o direito de ir e vir. Não conseguia mais nem visitar a filha.

Zuzu, antes de morrer, deixou um alerta sob a forma de bilhete, encaminhado ao amigo:

Agora resta aguardar o resultado da perícia no veículo acidentado para verificar se o ex-assessor “voou” por suas próprias asas, ou se algo “falhou” em seu carro, fruto de uma “bisbilhotagem” na máquina.

Publicado originalmente no Jornalistas pela Democracia