Morto por covid, dono da Unisa era próximo de Onyx e Bolsonaro e foi favorecido pela Capes

Atualizado em 18 de setembro de 2023 às 19:28
Antônio Veronezi, um dos donos da Unisa, morto em 2021, com o então ministro Onyx Lorenzoni

O caso dos alunos de medicina que simularam uma masturbação coletiva durante um jogo de vôlei feminino chama atenção, entre outros motivos, pelo silêncio da Universidade Santo Amaro (Unisa), onde eles estudam.

A baixaria ocorreu em abril, no torneio Calo 2023, em São Carlos, no interior de São Paulo, mas ganhou repercussão nas redes sociais no sábado (16), após um vídeo viralizar.

Os moleques do time de futsal estavam na plateia. Eles arriaram os calções enquanto as garotas jogavam. Uma jovem da Universidade São Camilo postou as imagens dos animais.

Em nota, o Centro Acadêmico de medicina da Unisa declarou “repudiar as atitudes demonstradas nos vídeos que estão circulando nas mídias sociais a respeito de competições anteriores”. A atlética também soltou um comunicado mequetrefe.

A direção da empresa, no entanto, preferiu silenciar.

Um dos donos da Unisa era Antônio Veronezi. Ele tinha estreitas relações com os ex-ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Abraham Weintraub (Educação). Defendia os interesses do setor de ensino superior privado, considerado uma prioridade pelo governo de Jair Bolsonaro. Foi recebido diversas vezes tanto por Onyx quanto pelo próprio Bolsonaro.

Em novembro de 2019, matéria da Folha contou que a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), vinculada ao Ministério da Educação, flexibilizou suas próprias regras para autorizar um novo curso de doutorado em Medicina Veterinária na Unisa.

A mudança no projeto de pós-graduação ocorreu durante o processo de análise, uma prática proibida pela própria Capes. A autorização do doutorado foi concedida em junho, após a intervenção do presidente do órgão, Anderson Correia.

O projeto original havia sido negado por duas outras instâncias antes da aprovação. Este tipo de recurso final é permitido pela Capes desde 2017, mas as alterações no projeto durante o processo são expressamente proibidas, segundo resolução interna.

O mestrado, que já existia, tinha nota 3, o conceito mínimo para operação. Com a aprovação do doutorado, a nota do mestrado foi elevada para 4, tirando o programa do radar de cortes recentes de bolsas de pesquisa que atingiram programas com nota 3.

Veronezi, na época, negou tentativas de interferência no processo e afirmou que visitou a Capes para expor a “realidade da instituição”, que, segundo ele, estava sendo ignorada pelos avaliadores. Pouco antes de deixar o MEC, Abraham Weintraub, olavista e analfabeto funcional, encaminhou à Casa Civil uma lista com indicados para compor a Câmara de Educação Superior. Entre eles, estava Antônio Veronezi.

Ele morreu em 2021, aos 77 anos, de Covid-19.