Motim em Manaus, Moro em Portugal e general Heleno vê “Brasil à beira do abismo”

Atualizado em 28 de maio de 2019 às 17:08

Publicado no Balaio do Kotscho

General Augusto Heleno

Está tudo de pernas para o ar, com o capitão completamente perdido em seu labirinto, e o principal conselheiro dele, o cansado general Augusto Heleno, está fazendo previsões sombrias.

Em assustadora entrevista ao jornal Valor, Heleno não deixou pedra sobre pedra:

“Subida do dólar, queda abrupta das ações das empresas brasileiras, desabastecimento. Vamos virar uma Venezuela! Vamos disputar arroz no tapa, vamos disputar feijão no tapa!”

Nem o mais radical líder da oposição faria um diagnóstico tão cruel no momento em que o governo Bolsonaro completa esta semana apenas cinco meses.

O general deve saber do que está falando porque trabalha no Palácio do Planalto em chamas, ao lado do capitão presidente.

Enquanto isso, no Brasil real, um motim de presos deixa 55 mortos em Manaus e o ministro Sergio Moro, responsável pelos presídios, como se não tivesse nada com isso, vai fazer palestra em Portugal.

Como viaja ao exterior esse ministro, para fazer palestras, participar de debates e receber homenagens… Faz bem, porque aqui dentro só sofre derrotas, uma atrás da outra, no governo e no Congresso.

Por falar em derrotas, agora o capitão está apanhando também nas redes sociais, seu principal reduto de resistência.

Levantamento do UOL, baseado na plataforma de inteligência de dados Torabit, revela que na micareta fascista de domingo a defesa do governo feita na internet pelos seus seguidores foi menor do que a dos opositores nas manifestações do dia 15 contra os cortes nas universidades.

A análise dos dados do dia 15 registrou 512 mil menções contra o governo Bolsonaro no Twitter, no Facebook, no Instagram e no Youtube, além de blogs e sites.

No domingo, os devotos de Bolsonaro, nas mesmas redes, não passaram de 300 mil menções.

Essa foi mais ou menos a mesma proporção dos protestos contra e a favor do governo que se viu nas ruas do país.

Havia bem mais manifestantes, e em mais cidades, no dia 15, do que anteontem.

Jair Bolsonaro só perde força a cada dia: nas ruas, nas redes, nas pesquisas e no Congresso, onde reina um clima de barata voa sem nenhuma articulação política do governo.

Na entrevista do Valor, general Heleno não contou grandes novidades. Mas, partindo dele, o que me chamou mais a atenção foi a referência que fez ao desabastecimento, algo que eu não tinha sentido ainda no bairro onde moro em São Paulo.

“Vivemos uma crise de desabastecimento seríssima no país, e até hoje os caras querem esconder isso, contar uma história diferente”, disse ele.

Que caras, cara pálida, querem esconder esse problema? Afinal, vivemos num regime oficial de fake news, desde a campanha eleitoral, em que o presidente da República muda de ideia e fala coisas diferentes, a toda hora, sobre os mesmos assuntos.

Para não variar, quem melhor resumiu este cenário caótico e apontou a raiz do problema foi o filósofo popular Zé Simão, melhor comentarista político do país:

“Ato a favor de Bolsonaro é contra o resto do mundo! Bolsominions culpam todo mundo pela incapacidade do Bozo de governar”.

Ainda não deu meio dia, muita coisa pode acontecer antes desta terça-feira terminar. Eu não arrisco palpites. Entramos no campo do imponderável e do imprevisível.

Quem sabe o que se passa na cabeça daquele tenente aloprado, que queria jogar bombas nos quartéis e na Cedae, reformado pelo Exército como capitão, aos 33 anos?

Só espero que os prognósticos do general Heleno não se confirmem enquanto eu ainda estiver vivo.

Salve-se quem puder.

E vida que segue.