
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), encerra o ano isolado após irritar esquerda, extrema-direita e centro com a condução das votações que resultaram na manutenção dos mandatos de Glauber Braga e Carla Zambelli. Segundo a coluna de Amanda Klein no UOL, a avaliação comum é de que ele perdeu apoio e criou desgaste simultâneo com todos os blocos.
A crise começou no início da semana, quando governo e esquerda foram surpreendidos pela votação da lei que reduz penas e beneficia Jair Bolsonaro. O PL também não se viu atendido, já que defendia anistia ampla. Mas o ponto de ruptura veio com a articulação de esquerda e centro para transformar a cassação de Glauber Braga (PSOL-SP) em suspensão por seis meses.
Para parte do Centrão, Motta foi “apunhalado” por aliados que atuaram a favor de Glauber, o que teria desmoralizado sua autoridade no plenário. Um líder influente afirmou que o presidente da Câmara “perdeu a condição de presidir e liderar, perdeu o pulso do plenário e não tem o mapa dos votos”. A absolvição de Zambelli também foi vista como consequência direta do recuo no caso do psolista.
Nessa leitura, se Glauber tivesse sido cassado, Zambelli seguiria o mesmo destino, o que não ocorreu por espírito de corpo de parte da Casa. A análise se estende a Alexandre Ramagem (PL-RJ), que seria “menos 10” na escala de chance de cassação, segundo um deputado.

Arthur Lira (PP-AL) foi apontado como um dos mais irritados, reacendendo antigas brigas com Glauber. Já aliados de Motta alegam que o presidente queria apenas “virar a página” e “limpar a pauta”, sem ter atuado ativamente pela cassação de ninguém.
Segundo eles, se esse fosse seu objetivo, ele teria conseguido. “A anistia e as cassações comprometeram o primeiro ano dele. Hugo é presidente forte, mas tem estilo muito diferente de Lira”, afirmou um aliado.
Para além da disputa imediata, parlamentares lembram que Zambelli, Ramagem e Eduardo Bolsonaro ainda podem perder seus mandatos por falta, o que preservaria seus direitos políticos, uma diferença em relação à cassação decidida pelo plenário.