
Irritado com a postura do Palácio do Planalto, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), tem adotado uma linha dura contra o governo do presidente Lula (PT).
Motta se recusou a atender ligações da ministra Gleisi Hoffmann (PT), responsável pela articulação política no governo, e ignorou mensagens do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mesmo diante de uma votação decisiva no Congresso, conforme informações da colunista Renata Agostini, do Globo.
Na noite de quarta-feira (25), Motta articulou pessoalmente a derrubada, por ampla maioria, do decreto de Lula que aumentava a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), medida que fazia parte da estratégia do governo para cumprir a meta fiscal de 2025. O decreto, que vinha sendo alvo de chantagem, foi derrubado por 383 votos na Câmara.
Aliados de Motta afirmam que o deputado acusa Haddad de agir com “deslealdade” ao criticar o Congresso em falas públicas e articulações nos bastidores. Para o parlamentar, o governo tem insistido em criar uma narrativa de “nós contra eles”, tentando colar no Legislativo a imagem de defensor de “lobbies” e interesses da elite.
Motta também critica a falta de coordenação política por parte do Planalto, o que, segundo ele, inviabiliza qualquer tentativa de negociação sólida. “Não vou fazer o jogo do governo”, teria dito o deputado, de acordo com interlocutores, reforçando que está comprometido com os interesses da Câmara.

A movimentação do presidente da Câmara ganhou força após o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), conduzir a sessão que derrubou vetos presidenciais. A avaliação entre aliados é que Motta não poderia deixar a Câmara em posição inferior e, por isso, era necessário assumir “protagonismo” na ofensiva contra o governo.
“Jogo político”
No governo, a avaliação é de que Motta já pensa na eleição presidencial de 2026. Ele teria assumido uma postura mais agressiva após conquistar o comando da Câmara com o apoio do centrão, bloco que flerta com uma candidatura da direita ao Planalto.
Membros do governo já estudam recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter a votação da Câmara e avaliam que a decisão de Motta teria sido um “jogo político”.