
Em entrevista ao jornal O Globo, o ex-vice-presidente e atual senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) minimizou a suposta reunião golpista entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e chefes das Forças Armadas, que veio à tona por meio da delação do tenente-coronel Mauro Cid à Polícia Federal (PF). Para Mourão, a ocasião não passou de um “mero blá-blá-blá”:
(…) Na avaliação do senhor, militares envolvidos na suposta trama golpista devem ser punidos pelas Forças Armadas?
Vão dizer que uma tentativa de homicídio tem que ser punida, mas uma investida de golpe é diferente de homicídio. No caso de quase assassinato, eu te dou um tiro e erro. Uma tentativa de golpe seria o quê? A Força Armada sair para a rua e ser derrotada, a exemplo do que ocorreu na Turquia. Isso não aconteceu no Brasil. Se for verdade a delação do Mauro Cid sobre essa suposta reunião, o que houve foi uma discussão. Segundo ele, uns disseram que eram contra e outro disse que era a favor. Isso é um assunto que vai pertencer à História apenas.
Mesmo que alguém tenha falado em um plano de tomar o poder, não mereceria ser punido?
É diferente. Quando Juscelino (Kubitschek) foi eleito, vivíamos um processo tumultuado por causa da morte do Getúlio (Vargas). Na ocasião, houve três presidentes interinos e duas tentativas de golpe para impedir a posse do Juscelino: Jacareacanga, Aragarças. Todas foram revoltas de militares da Força Aérea. Ali realmente você teve uma investida. Agora o que há é um mero blá-blá-blá…
Vê alguma parcela de culpa das Forças no 8 de janeiro?
Não. As Forças Armadas sempre estão agindo dentro da legalidade, legitimidade e mantendo a estabilidade do país. Ela não foi fator de instabilidade. O que ocorreu foi o seguinte: um grupo de baderneiros achou que, fazendo uma baderna naquele domingo, 8 de janeiro, algo iria mudar no Brasil. Muito pelo contrário, não mudou nada.

Por que Bolsonaro não se pronunciou reconhecendo o resultado da eleição?
A gente nunca sabe como um ser humano reage a um determinado acontecimento. Ele ficou muito frustrado. (…)
O ex-presidente Bolsonaro teve culpa pelo 8 de Janeiro?
O que ele ia fazer?
Ele poderia ter reconhecido a eleição, como o senhor sugeriu, não?
Poderia, mas acho que ele não teve culpa nisso. Aquela movimentação já estava em determinados grupos dos nossos apoiadores, aqueles mais insatisfeitos com o processo eleitoral. (…)