
Em entrevista à Folha, Mourão diz que Lula voltou ao poder com “espírito de revanche”.
Mourão fez movimentos para se diferenciar de Bolsonaro, ao longo de todo o mandato, culminando com a mensagem de fim de ano – quando o chefe já tinha fugido para a Flórida.
Mas convém não esquecer que ele sempre foi um autêntico representante da gorilagem. Advogado de golpes militares, inimigo dos direitos dos trabalhadores (queria extinguir o décimo-terceiro salário, lembram?), racista, entusiasta de sinecuras.
“Revanchismo” foi uma palavra cunhada pela cúpula militar para impedir que os crimes da ditadura fossem alvo de processos.
É uma forma de assegurar a inimputabilidade penal dos militares, não importa os malfeitos que tenham cometido.
Bolsonaro e seus cúmplices, entre os quais muitos militares, são responsáveis por inúmeras violações da lei – crimes contra a saúde pública, contra o Estado democrático de direito, peculato, prevaricação, concussão.
Ninguém quer revanche. O que se quer é que sejam processados, com todas as garantias da lei – aquelas mesmas que foram negadas a Lula e a tantos outros – e punidos de acordo com um julgamento correto.
Aceitar a pressão militar e não punir os crimes da ditadura foi um dos grandes erros da Nova República.
Se queremos construir uma democracia mais sólida, não podemos repetir esse erro. É preciso sinalizar, para truculentos e golpístas, que suas ações têm consequências.
Como disse a multidão, na posse: “Anistia, não!”
Justiça, sim.